O dia em que o futuro chegou. E mudou tudo
08 de Maio de 2020 – Revista Istoé Dinheiro Poucas gerações têm o privilégio, sem dúvida assustador, de assistir ao futuro chegar. A má notícia é que ele não vem pronto. A boa: pode ser construído com menos imperfeições. As lideranças do mundo do trabalho ouvidas pela DINHEIRO neste painel permitem, de forma extraordinária, jogar um pouco de luz sobre o que vivemos. E o que virá. Uma coisa é certa. Não há consenso. Mas outra certeza se impôs: há convergência. Todos afirmam que a melhor saída para a crise exige soluções colaborativas. O santo graal do mundo produtivo, a Transformação Digital, chegou acelerada por um vírus. “Será uma reinvenção digital que nos levará à hipercolaboração”, diz Tonny Martins, presidente da IBM Brasil. “Conveniência e personalização juntas, com tecnologia humanizada através da Inteligência Artificial.” Um cenário de participação e comunidade compartilhado por Liel Miranda, presidente da Mondelez no Brasil. “O período de isolamento despertou nas pessoas, e nas empresas, a importância ainda maior de contarem umas com as outras para realizarem algo.” A mesma percepção de Leyla Nascimento, a vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil). “É impossível sairmos dessa crise sem uma reflexão pessoal — nós e o outro, de como juntos podemos melhorar as relações humanas.” Uma linha de raciocínio que se costura pelos entrevistados. Mas não será um caminho sem chances razoáveis de erros e fracasso. “Ao longo da história as crises nos ensinaram várias coisas, entre elas a de que nem sempre o período posterior é dos melhores”, diz Marcel Cheida, professor de jornalismo e ética na PUC de Campinas. O alerta faz sentido. O admirável mundo novo pode não ser tão admirável. Os entrevistados afirmam que não será pela inércia que a transformação digital e uma nova cultura comportamental surgirão. Fernando Pimentel, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), define a era pré-pandemia como de “conflito, nacionalismo e polarização”. O mundo pós-pandemia ele define como de “conflito, nacionalismo, polarização. E solidariedade”. Nessas horas entram em cena as pessoas que fazem. Luciano Araújo é um designer paulistano dono da Botões Clássicos, inicialmente uma pequena e artesanal produção de times de futebol de mesa. A iniciativa o levou a ser dono de um bar, que sedia campeonatos em torno do botonismo, e culminou num projeto de voluntarismo no Capão Redondo, periferia extrema de São Paulo. No começo da pandemia, ele e parceiros do projeto arrecadaram e distribuíram 23 toneladas de alimentos a 1,5 mil famílias cadastradas. Solidariedade. Mas também posicionamento de marca em alto nível. “Acredito que identidade e responsabilidade social serão fundamentais para os negócios. As pessoas vão se identificar com empresas que tenham em sua essência o envolvimento social.” DIGITAL AGORA Um combo “solidariedade + mundo verdadeiramente digital”. Muitas organizações não conseguiam cruzar a fronteira, alcançar a plenitude digital. As que alcançavam tornavam-se sem estofo mundo real. Um limbo. Um espaço em suspenso que parece ter chegado ao seu fim. Ricardo Balkins, sócio-líder da Indústria de Consumer Business da Deloitte diz que o cenário pré-Covid-19 era definido pela expressão “o consumo digital é o futuro”, substituída por “o consumo digital é agora”. Há, no entanto, uma sutileza que nem todas as marcas parecem ter percebido com a crise. Ser digital não elimina o fator humano. Juntar pitadas generosas de sensibilidade no mundo da transformação digital aparenta ser o caminho. E aqui nasce, junto da transformação digital, o novo consumidor. Com um pacote de novos hábitos aprendidos e assimilados em tempo recorde — e de forma compulsória, com a quarentena. No setor de serviços, por exemplo, a modelagem de negócios deve mudar rapidamente. Claudia Toledo, general manager da Elsevier Brasil, diz que o setor pensará em receita recorrente. “As empresas de serviços devem adotar um modelo de assinatura.” Só assim sobreviveram a cenários como o da pandemia. E porque assim o novo consumidor passou a ter e exigir. Renato Mansur, diretor de Canais Digitais no Itaú Unibanco, diz que crises como essa impõem mudanças de rotina. “E acabam tendo consequências duradouras sobre certos comportamentos e padrões de consumo.” Uma avaliação com a qual Karel Luketic, head de marketing e conteúdo da XP, concorda. “A pandemia nos trouxe muitos aprendizados, mas os principais são o encontro do equilíbrio nas rotinas e na saúde, além de aprendermos a trabalhar de forma mais digital e flexível”, afirma. Isso deverá impactar, inclusive, instituições públicas. O Estado. Margot Greenman, CEO e cofundadora da Captalys, diz que as administrações públicas serão obrigadas a se digitalizar. “Mudarão completamente a forma que os cidadãos interagem como seus governos.” Mudará tudo, enfim. Do varejo aos serviços, da solidariedade às relações do consumidor cidadão com as marcas e os governos. Jonah Peretti, fundador do Buzzfeed, sempre disse que nunca mirou na tecnologia, mas sim no comportamento. E o novo padrão ensinado pela pandemia fez finalmente que a transformação digital surgisse para todos. “Tínhamos um mundo mais tribal, muitas tribos. Com a crise, a gente está passando por um processo de maior interesse na coletividade, na comunidade expandida”, diz VanDyck Silveira, CEO da Trevisan Escola de Negócios. “Uma comunidade de ajuda mútua, de maior harmonia.” Os 100 entrevistados pela Dinheiro DINHEIRO agradece em especial a cada um de nossos 100 entrevistados, cuja inteligência coletiva e colaborativa permitiu a construção deste painel:Aldo Macri, diretor (Sindilojas), Alexandre Sgarbi, diretor-executivo (Cosin Consulting), Alvaro Furtado, presidente (Sincovaga), Amure Pinho, presidente (ABStartups), André Coutinho, líder de mercados (KPMG), André Friedheim, presidente (ABF), André Zukerman, CEO (Zukerman Leilões), Andrea Kohlrausch, presidente (Calçados Bibi), Antônio Cabrera Mano Filho, presidente (CMLE), Augusto Lins, presidente (Stone Pagamentos), Aury Ronan Francisco, diretor financeiro (Grupo Movile), Bernardo Gomes, CEO (Sinqia), Beto Filho, presidente (ABF – RJ), Carlos do Carmo Andrade Melles, presidente (Sebrae), Carlos Eduardo Curioni, CEO (Elo7), Carlos Mira, CEO e fundador (TruckPad), Carlos Wizard Martins, CEO (Grupo Sforza), Claudia Toledo, general manager (Elsevier), Cristiano Cardoso Teixeira, diretor-geral (Klabin), Daniel Domeneghetti, CEO (E-Consulting), Davi Holanda, CEO (Acesso Bank), Diogo Lupinari, CEO (Wevo), Dionaldo Passos, CEO (Navita), Edison Tamascia,