12 de Abril de 2020 – Jornal O Globo
Por Karen Garcia – Rio
Profissionais estão aproveitando o maior tempo livre para aperfeiçoamento
RIO – As medidas de isolamento dos que podem ficar em casa para frear o avanço do coronavírus vêm mudando a dinâmica do trabalho e também do aprendizado. Além do home office, muitos profissionais estão aproveitando o maior tempo livre para se aperfeiçoarem com cursos on-line.
Levantamento do Google mostra que a procura por especializações à distância teve um salto de 130% nas buscas nos últimos dias.
Além do interesse maior, empresas também têm incentivado funcionários a aproveitarem a quarentena para fazer cursos — e estão dispostas a pagar por eles. Atentos a essa oportunidade repentina de ampliar suas salas virtuais, instituições de ensino à distância em diferentes setores aumentam a oferta de conteúdo na rede.
A consultoria internacional BIP é uma das empresas que resolveram orientar seus profissionais a usarem o período em casa para atualização. Um dos sócios da Bip Brasil, Flávio Menezes, conta que firmou parcerias com duas instituições de ensino à distância para cursos nas áreas de ciência de dados, gestão de recursos humanos e marketing digital, com menor custo para suas equipes:
— Na nossa atividade, a busca pelo conhecimento é constante. Tivemos adesão de 40% dos colaboradores. É também uma forma de fortalecê-los mentalmente nessa jornada de isolamento social.
Na Fundação Getulio Vargas (FGV), as formações gratuitas tiveram alta de 400% na adesão, em comparação aos meses de janeiro e fevereiro. Essa maior procura incentivou a estruturação de novos cursos pela instituição, conta a diretora de gestão acadêmica Mary Murashima:
— Estamos agregando sete cursos de especialização on-line ao nosso portfólio, com o objetivo de fornecer mais opções de formação em diferentes áreas de conhecimento.
Formação e distração
Com o adiamento do início das aulas na faculdade, a estudante de desenho industrial Mariana Godinho, de 27 anos, aproveitou o período de quarentena para fazer uma especialização na área de programação de sites. Ela acredita que o conhecimento em criação para web poderá ser útil no desenvolvimento de projetos profissionais e no próprio curso de graduação:
— Sem a rotina das aulas presenciais e o deslocamento para a universidade, consigo tirar algumas horas para fazer um curso no qual já tinha interesse, mas não tinha tempo. E também é uma distração.
Na visão do consultor da Hoper Educação João Vianney, o momento é uma oportunidade para o setor ganhar mais usuários e consolidar um segmento que já vinha crescendo.
— Quando as pessoas se dão conta que talvez fiquem três meses em casa, começam a buscar no ambiente virtual formas de se capacitar para não ficarem paradas. Em 2018, o ensino superior privado à distância já superou o presencial. A tendência é que as instituições formatem cada vez mais produtos para atender o crescimento dessa demanda. A tecnologia sempre existiu, as pessoas que não a utilizavam em sua integralidade.
Algumas instituições estão oferecendo um período de teste sem custo como estratégia para atrair novos clientes. O curso on-line de inglês Hyper English, do grupo Spot Educação, dono ainda da Cultura Inglesa, dá 20 dias grátis. A oferta fez com que a estudante de nutrição, Ruanna Cavalcanti, de 31 anos, retomasse a aprendizagem do idioma:
— O período de teste permitiu que eu me adaptasse à plataforma. Quebrei o preconceito com o ensino à distância e me identifiquei bastante com o ambiente virtual. Na internet, tenho flexibilidade de horário e não preciso me expor ao julgamento de outros alunos em questões como pronúncia. E eu me sinto à vontade para tirar dúvidas com professores e assistir aos vídeos quantas vezes for necessário.
A Casa do Saber, instituição focada em debates e disseminação do conhecimento nas áreas de filosofia, cultura e política, também liberou acesso gratuito aos conteúdos disponíveis em seu aplicativo por 30 dias. Nas duas primeiras semanas, foram mais de cem mil downloads do app, conta o diretor-geral da instituição, Guto Belchior:
— Em 2016, 7% das nossas vendas eram de transmissões on-line. Hoje, pulou para 25%. E, ao que tudo indica, vai aumentar. Vamos olhar com mais atenção ainda para a experiência das nossas transmissões on-line em termos de qualidade de imagem e som, e de ferramentas de interação entre alunos e professores.
Para acessar a matéria original: https://oglobo.globo.com/economia/em-tempo-de-quarentena-cresce-procura-por-cursos-on-line-24366347