AUTORIA

Luiz Fabbrine

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

DIRETOR RESPONSÁVEL

O Blockchain não deve ser mal interpretado como uma tecnologia monolítica (ou seja, como algo rígido). Ele representa, na verdade, a união de diversas tecnologias criptográficas, teorias econômicas e conceitos digitais.

Atualmente, ainda sem a utilização massiva da tecnologia Blockchain, as transações financeiras e de negócios ainda requerem a utilização excessiva de intermediários que assegurem que estas sejam legítimas e concluídas com sucesso. Seja em uma compra e venda de imóveis e veículos, pagamentos com cartão de crédito, transferências financeiras e pagamentos em geral, por exemplo. Em qualquer um dos casos, a transação passa obrigatoriamente por um sistema de redes centralizadas e intermediários para legitimação.

É aí que entra a tecnologia Blockchain, que tem o potencial de revolucionar as regras de relacionamento entre pessoas e negócios, através da melhoria na transparência de processos financeiros e de negócios, aprimorando, assim, a experiência do cliente, quebrando barreiras geográficas e estabelecendo uma economia mais democrática e autônoma.

Este artigo está baseado no estudo completo da Bip Consulting (https://www.bipconsulting.com/insights/the-next-block-in-the-chain-enterprise-adoption-of-blockchains) e traz uma visão geral do mosaico de tecnologia que é o Blockchain, investigando as tendências atuais do setor e seus principais desafios.

A origem do Blockchain

Os contratos, transações e registros definem o núcleo do sistema econômico e comercial atual. Assim como, definem também as estruturas e estabelecem as regras de troca de valor entre nações, empresas, comunidades e pessoas. E no centro de tudo isso, está o dinheiro.

Antes baseado no sistema de troca, o conceito de dinheiro evoluiu muito nos últimos séculos. Hoje, não só contamos com o dinheiro físico, transações de pagamentos com cartões de débitos e créditos, transferências bancárias, como podemos contar com as criptomoedas e com a tecnologia por trás delas, o Blockchain.

O Blockchain surge com o potencial de melhorar a transparência nos processos financeiros e dos negócios, aprimorando a experiência do cliente, quebrando barreiras geográficas e estabelecendo uma economia democrática, autônoma e sem necessidade ou com redução de intermediadores que tragam legalidade a transação, tais como cartórios, instituições financeiras, bancos centrais, governos, dentre outros.

Mas como o Blockchain surgiu? Essa tecnologia ficou popularizada em 2008, por sua primeira aplicação, o Bitcoin. Através dela, foi possível que milhares de participantes ​​realizassem transações sem a necessidade de uma autoridade central para garantir a troca dos valores.

A criptomoeda Bitcoin introduziu uma nova maneira de conduzir transações por meio de consenso baseado em Proof-of-Work (PoW), que é um código composto por números encriptados que serve como um “protocolo” que aquela transação é válida. O PoW permite que milhares de participantes completamente desconhecidos entre si ​​transacionem ponto a ponto, sem a necessidade de uma autoridade central que garanta os valores trocados. Neste caso, estamos nos referindo a uma rede de Blockchain pública, ou seja, completamente aberta e permite que qualquer pessoa participe recebendo ou enviando transações.

Porém, à medida que os Blockchains públicos evoluíram de uma tecnologia de nicho para uma mais difundida, flexível, programável e automatizável, mecanismos de consenso subjacentes também precisaram ser desenvolvidos para lidar com as desvantagens e permitir sua adoção comercial.

A rede pública de Blockchain, no entanto, tem algumas desvantagens, como altas latências, baixas taxas de transação, custos de transação flutuantes e gasto significativo de energia, o que a torna menos adequada para a adoção por empresas.

Como alternativa, há também recentes Blockchains privados e de consórcio que foram  desenvolvidos de forma customizada e com foco em redução de custos na cadeia de produção, busca por eficiência operacional e melhoria na experiência dos clientes. Estes, por sua vez, requerem permissão para ler as informações e exigem que um convite seja enviado pelo iniciador da rede, já que o acesso é particular.

Como as empresas estão se beneficiando desta tecnologia?

Hoje em dia, ambos Blockchains públicos e privados já são realidades no mundo dos negócios, apesar de alguns ainda requererem melhorias sob os aspectos jurídicos e legais envolvidos.

E, apesar do mercado ainda ser incipiente e fragmentado, as implementações já estão começando a acontecer em diversas empresas B2B e B2C.

No setor financeiro, por exemplo, o Blockchain tem sido muito utilizado por Fintechs e Big Techs, facilitando e possibilitando acesso rápido e prático às finanças. Empresas têm lançado, por exemplo, seu próprio sistema de pagamentos online com o apoio da tecnologia.

O gráfico abaixo demonstra sua utilização nas principais indústrias, com destaque para os setores financeiro, de telecomunicações, bens de consumo e saúde:

Fonte: https://a.storyblok.com/f/68014/x/257d180ab2/the-next-block-in-the-chain_logo.pdf

Olhando especificamente para o mercado europeu,  as empresas também já perceberam o potencial dessa tecnologia, com muitas organizações aproveitando seus benefícios. Dentre os tomadores de decisão de negócios na Europa, 72% perceberam os benefícios gerados pela aplicação do Blockchain (Cognizant, 2018).

Todavia, na Itália, o sentimento é um pouco diferente. Embora o potencial do Blockchain seja sentido, ele ainda não é percebido como uma força disruptiva. Para evidenciar este fato, a Bip entrevistou os principais tomadores de decisão de seus clientes no setor de energia na Itália. Os clientes – grandes concessionárias de energia elétrica italianas, provedores de serviços, produtores de energia renovável e operadores de rede – foram consultados sobre sua opinião sobre o futuro da Blockchain no setor de energia italiano. Os entrevistados disseram o seguinte:

 

Alguns desafios enfrentados pela tecnologia Blockchain

Os Blockchains públicos têm um grande potencial para criar a próxima geração de sistemas da Internet, mas estão enfrentando uma série de desafios técnicos.

Primeiro, escalabilidade do sistema que assombra os sistemas Blockchain desde a sua criação. O desafio é criar um bloco que tenha um tamanho razoável para alcançar maior escalabilidade, mas, ao mesmo tempo, ele precisa ser seguro. Em segundo lugar, descentralização. Ao longo dos anos, os mineradores formaram associações poderosas que eventualmente poderiam influenciar o consenso dos Blockchains Públicos. Em terceiro lugar, a segurança do usuário e dos dados. E, por fim, a impossibilidade de se comunicar com outros Blockchains e a improbabilidade de se comunicar com outro sistema é um fator impeditivo para a adoção em massa e, mais importante, a adoção pelas empresas:

  • Escalabilidade

A escalabilidade leva em consideração o tempo de taxa de transferência e confirmação. Taxa de transferência é o número de transações por segundo que o sistema pode suportar. E o tempo de confirmação é o tempo decorrido entre o envio de uma transação e sua aceitação definitiva. Ambos os parâmetros permitem que a validação para a autenticidade da transação entre os participantes do Blockchain (algoritmo de consenso) chegue a um estado final sem a possibilidade de perder as transações ou ser atacado.

Portanto, a escalabilidade é um grande gargalo. Hoje, a taxa de transferência, na rede Bitcoin, é afetada pelos 10 minutos (em média) necessários para extrair cada novo bloco. Como o número de transações em um bloco tem um limite superior, o número de transações confirmadas em 10 minutos também é limitado. Além disso, o número limitado de transações resulta no aumento de custos de uma transação pela concorrência entre usuários, uma vez que eles ficam sem opção.

A escabilidade é um dos principais desafios para o Blockchain e estudos técnicos recentes buscam equilibrar entre medidas de redução de redundâncias “eventualmente” desnecessárias na rede e manter em níveis aceitáveis a segurança e descentralização da cadeia, para conseguir atingir maior rendimento e satisfazer as exigências do mercado atual.

  • Volatilidade dos preços

Outro problema a ser enfrentado é a volatilidade do custo de uma transação influenciada pela volatilidade dos preços da criptomoeda nativa nos mercados financeiros. Do ponto de vista corporativo, essa instabilidade é um forte impedimento para a adoção do Blockchain. Isso porque volatilidade dos preços no Blockchain público afeta o custo da transação, afetando, consequentemente, o custo do uso do Blockchain.

Essa extrema volatilidade do mercado de criptomoedas pode ser atribuída a vários fatores, como percepção de que o Bitcoin é uma reserva de valor; incerteza do futuro da criptomoeda do ponto de vista legal, fiscal e de segurança; e considerações técnicas quanto a escalabilidade.

  • A ameaça da centralização

Um dos principais requisitos para a rede Bitcoin ser segura está no fato do processo ser distribuído e processamento descentralizado, no qual a rede de participantes processam, validam e protegem as transações da cadeia Blockchain.

A descentralização até agora tem sido tratada em termos de desintermediação de processos históricos (sociais e profissionais) e verificação e aprovação comunitária de transações. O ponto central também é a capacidade de uma rede Blockchain resistir à centralização, ou seja, ao controle nas mãos de poucos que poderiam manipular a rede.

  • Segurança dos usuários e dos dados

A segurança indica a resistência do algoritmo de consenso validada entre os participantes a possibilidade de manter o Blockchain e os dados dos usuários privados e transações seguras. O consenso precisa garantir que (1) quando um usuário honesto tiver conectividade suficiente e tentar enviar uma transação, ele será aceito. (2) Quando os nós confirmarem uma nova entrada no log de transações, ela não será alterada posteriormente. (3) Depois que uma transação é gasta, ela não pode ser gasta duas vezes e, por fim, (4) existe um protocolo de segurança em caso de falha do sistema.

  • Impossibilidade de se comunicar com outros Blockchains ou outros sistemas

A interoperabilidade é a capacidade de uma tecnologia Blockchain permitir a troca de informações interfuncional com outros sistemas fora do Blockchains e trocar informações entre cadeias cruzadas com outros Blockchains.

Porém, atualmente, nenhum Blockchain oferece essa possibilidade. Se você decidir usar um Blockchain específico, por exemplo, Ethereum para seu aplicativo corporativo, todas as partes interessadas em seu ecossistema devem usar o Ethereum e toda a lógica de negócios deve ser construída no Ethereum – ou na mesma rede Blockchain de escolha. Isso porque os Blockchains são isolados e independentes. Não é possível transferir Bitcoin para rede Ethereum.

O que esperar da Arena Blockchain

Grandes grupos de desenvolvedores estão investindo seus esforços para tornar as cadeias públicas de Blockchain prontas para a adoção em massa. Eles estão lutando para ganhar terreno resolvendo esses problemas de escalabilidade, descentralização, segurança e interoperabilidade.

Para as grandes corporações, o Blockchain criará um novo conceito de “transferência de valor”, também conhecido como tokenização da Internet, onde ativos e valor serão programados e incorporados no aplicativo através de tokens.

Dinheiro e ativos através de seus “gêmeos digitais” serão tratados com contratos digitais para suportar processos totalmente digitalizados, aumentando a transparência, a liquidez e a eficiência do mercado. O potencial máximo desses benefícios é alcançado somente se o Blockchain se tornar verdadeiramente onipresente e aberto.

É por isso que os Blockchains públicos são a chave do negócio. Provavelmente, um Blockchain com contramedidas fora da cadeia corrige os problemas atuais de escalabilidade. Um protocolo que preserva os benefícios da cadeia, superando suas limitações, seria um verdadeiro ‘salto quântico’, evitando a necessidade de introduzir qualquer camada externa.

Este é o momento certo para experimentar a tecnologia no setor empresarial, para criar competência a ser aprimorada quando a maturação tecnológica estiver completa para adoção em massa.

Para acessar o estudo original completo, clique em: https://www.bipconsulting.com/insights/the-next-block-in-the-chain-enterprise-adoption-of-blockchains

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