AUTORIA

Marcelo Pagoti

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

DIRETOR RESPONSÁVEL

O mundo agrícola e o mundo industrial não são duas economias separadas, o relacionamento não é meramente de compra e venda. Pelo contrário, eles estão tão interligados e inseparavelmente unidos, é preciso pensar neles em conjunto para que haja algum suporte sólido sobre um ou outro. (J. Daves & R. Goldberg, Harvard University, 1957)

A citação acima é a melhor definição de Agronegócio, pensar que Agro se limita da porteira da fazenda para dentro dela talvez seja o maior sinal de desconhecimento deste mundo que é o Agronegócio. Vale aqui também repetir os mantras que o Agronegócio não está somente nos alimentos que consumimos, está em cada peça de roupa de compramos no Varejo, está nos Postos de Combustível mesmo quando abastecemos nossos carros com gasolina (até 27% é Etanol), acho que já ouvi em alguém lugar que Agro é Pop… E é mesmo! Agronegócio é o conjunto de todas atividades sejam elas ANTES, DURANTE e DEPOIS dos limites das fazendas. Resumindo, é um sistema de diversas atividades que está profundamente ligado a qualquer setor da economia e da nossa sociedade.

Associação Brasileira do Agronegócio

O conceito de Transformação Digital é bem amplo, existe um entendimento comum que Transformação Digital é toda adaptação necessária que as forças da economia estimulam. O bom e velho “fazer mais com menos” por meio tecnologias digitais.  No Agro isso vale muito, o desafio de alimentar mais de 9,5 Bilhões de pessoas até 2050 não será atingido com os modelos que a sociedade convencional conhece de Agricultura e Pecuária. Será necessário racionalizar o uso de água, terras, fontes energéticas, insumos como fertilizantes e componentes químicos e não menos importante, devemos reduzir drasticamente os índices de desperdícios que temos em toda cadeia (Pesquisas apontam 1/3 de desperdício global).

Outros ciclos trouxerem enormes avanços de produtividade e eficiência no setor Agro como Green Revolution, GMO Revolution certamente seus avanços permanecem fundamentais para responder ao desafio de2050, porém a curva incremental de avanço se dará pelos meios digitais. É a nova Capacidade Computacional aliada a Competência Analítica de dados que vai garantir nossa alimentação.

Nossas vidas simplesmente se transformaram com o advento dos smartphones. Temos máquinas com mais capacidade computacional em nossos bolsos do que as que levaram o homem à Lua nos anos 60. Nossos celulares têm entre 14-20 sensores, alguns até mais. Eles vêm de fábrica com sensores de proximidade (desliga a tela quando o seu celular está perto da sua orelha), captação de luz (mede a luz ambiente e ajusta o brilho da sua tela), magnetômetro (mede os campos magnéticos, é este sensor que faz o trabalho de mostrar o mapa na direção certa), GPS, entre outros… Todo esse arsenal tecnológico e muito mais está sendo aplicado ao Agronegócio no geral. Muitas fazendas já contavam com estações meteorológicas e pluviômetros, mas o sensoriamento mais avançado (IoT) aliado a novas plataformas tecnológicas traz uma nova dimensão de dados para agricultores e indústrias. São esses dados que vão pautar as decisões diárias de todo agricultor na busca por eficiência. Abaixo alguns exemplos de tecnologias sendo empregadas:

  • IoT – Sensoriamento Avançado. Um exemplo prático são sensores que medem propriedades do solo permitem remanejar procedimentos de plantio e limitar a aplicação insumos e defensivos a áreas menores;
  • Plataformas Inteligência Artificial para individualizar o monitoramento de performance animal. Conjunto de balanças inteligentes, sensores e software para monitorar o ganho de peso animal e determinar e aplicar medidas individuais.
  • Drones e Veículos não tripulados (AGVs) serão os olhos do agricultor, já são capazes de cobrir grandes territórios e podem individualizar diagnósticos ao menor nível possível: Planta a planta, boi a boi. No futuro Drones e AGVs serão capazes de coletar amostras acompanhar o desenvolvimento de plantios e detectar N situações, serão assim os responsáveis pelo tratamento individual de cada planta.
  • Tecnologias como o Blockchain irão permitir rastreabilidade total de produtos e suas técnicas de manejo. Com o amadurecimento do mercado, estas informações passam a ser cada vez mais importantes para consumidores. Produtores e Indústrias que se adaptarem com mais velocidade e adotarem essa estratégia alcançaram mercados adicionais e margens mais estáveis.

Muitas dessas tecnologias já estão sendo empregadas, apesar do cenário de Covid-19 as projeções apontam para mais um recorde da safra de grãos em 2020. A estimativas apontam para um número superior a 249 milhões de toneladas, se concretizada seria uma alta de mais de 3% se comparada com 2019. Bem verdade que a área plantada também aumentou. Os bons preços das commodities nos últimos meses de 2019 estimularam troca de culturas, fato que aumentou em cerca de 1,8% a área a ser colhida em 2020. Um bom exemplo de auxílio da tecnologia nesse aumento de produção são técnicas atualizadas de plantio graças a Automatização de maquinário. Tratores automatizados são capazes de distribuir as sementes em uma profundidade mais homogênea e adequada e com a quantidade de fertilizantes apropriada, fazendo com que elas germinem e cresçam com melhor performance.

Outro fator é a popularidade crescente de Plataformas de Agricultura Digital. As maiores fazendas já contam com auxílio de sistemas integrados que coletam e processam em tempo real diversos dados de campo, muitas plataformas são capazes de confrontar esses dados com índices ótimos do produto, monitoram a performance de cada talhão. Por fim auxiliam agricultores com prescrições detalhadas para garantir melhor produtividade plantio à colheita.

No Agro a amplitude da transformação digital vem sendo geral, desde o mercado de insumos como sementes, fertilizantes e rações, as infinitas possibilidades nos campos e pastos, passando pelos demais elos da cadeia produtiva, como indústrias diversas, armazenagem, logística até o produto acabado. Tanto é verdade que pesquisas indicam que número de Agtechs (startups do Agro) são as que mais crescem, com investimentos na ordem de US$ 40 bilhões em todo o mundo entre 2018 e 2019 segundo AgFunder. Além das tecnologias digitais citadas acima várias Agtechs têm como escopo de atuação conceitos já maduros em outros mercados como Market Places e Serviços Financeiros como Crédito e Seguros.

Contudo a mera aplicação de tecnologia por si só não garante resultados de longo prazo, além da adoção de tecnologia muitas empresas contam com o suporte de consultorias para estruturação de um plano mais amplo de Transformação Digital e auxilio nas fases de implantação hora como viabilizador tecnológico ou organizacional. Competências como Gestão da Inovação, Projetos e Mudanças são fundamentais para alcançar resultados e muitas das vezes tem esforços reduzidos devido à pressão pela continuidade das operações e negócios.

Por fim, um fato certo é que independente do setor econômico a Transformação Digital deve ser o caminho para solucionar desafios do negócio, e não apenas aplicação da tecnologia em si. O Agronegócio da era Transformação Digital será cada vez mais conectado e com senso de cidadania sustentável, principalmente depois da era pós Covid-19.

Nações darão prioridade total para rastreabilidade e segurança alimentar, muitos projetos devem ser desenvolvidos nesse âmbito. O Agronegócio que há N gerações busca a máxima eficiência em seus processos passará a ter como meta de todos participantes da cadeia (produtores, indústrias e varejistas) trazer também uma melhor experiência para consumidores, afinal a partir de agora somos a última geração que não questionava a origem de uma dúzia de bananas ou de 1 quilo de carne moída na geladeira de um supermercado qualquer.

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