AUTORIA

Flávio Menezes

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

DIRETOR RESPONSÁVEL

A expressão “copo cheio x copo vazio” sempre fez muito sentido para mim. Tão utilizada no mundo contemporâneo, principalmente no contexto dos negócios, essa expressão trata de tentar olhar os problemas ou situações de duas formas, privilegiando sempre a perspectiva positiva.

Certamente, tudo que estamos passando e o pós Covid-19 pressionará indivíduos e empresas a tentarem uma rápida busca pela reversão da curva abrupta que pode levar muitos ao pior “vale” da história.

Sob a atual circunstância, em muitos casos, estaremos diante da “sobrevivência corporativa”. Porém, dizem que a necessidade é a mãe da invenção, e quando a vida está em risco, nos sentimos ainda mais preparados para agir rapidamente e nos reinventarmos. Nesse cenário, não tenho dúvidas de que a Transformação Digital e a Inovação serão protagonistas e estarão ainda mais presentes nessa reversão da curva.

Depois de alguns anos trabalhando e estudando sobre esses temas, tenho a mais absoluta convicção que esses só fazem sentido se as empresas estiverem alinhadas a, pelos menos, uma dessas três alavancas:

  1. Eficiência;
  2. Melhoria na experiência do cliente;
  3. Um novo modelo de negócio em resposta à uma disrupção no mercado que atuam.

Isso, claro, vem sendo impulsionado pelo cidadão, cada vez mais empoderado, querendo opções mais rápidas, acessíveis, com uma experiência sem atrito e que lhe promova melhor bem-estar.

Tentando sumarizar algo amplo e complexo que é definir o que é Transformação Digital, na minha visão, trata-se de uma TRANSFORMAÇÃO CULTURAL, visando:

A) sob a ótica dos negócios, pelos menos uma das três alavancas citadas acima;
B) sob a ótica das pessoas envolvidas, um novo modelo de trabalho que combine novas formas de interação e utilização em escala de novas tecnologias, culminando sempre em maior empoderamento e bem-estar.

Pensando nisso e observando tudo que vi e pratiquei ao longo desses últimos quatro anos no mundo corporativo, listei abaixo algumas apostas em termos de formas, conceitos e novas tecnologias que acredito fortemente que serão protagonistas após tudo o que estamos vivendo:

1) Trabalho remoto

O momento atual nos forçou a manter o distanciamento social e trabalhar em casa. E essa nova realidade tem nos mostrado que, através da disciplina, podemos ser produtivos trabalhando remotamente, evitando, assim, desgastes físicos e emocionais e o deslocamento conturbado nos grandes centros urbanos. Consequentemente, temos como resultado direto disso nosso maior bem-estar, já que estamos mais próximos de nossas famílias.
Mesmo as empresas “pouco digitalizadas” ou “descrentes com as tecnologias” precisam intensificar o uso de videoconferência, compartilhamento de documentos, soluções em nuvem, entre outras ações, para manter suas operações em plena execução.

2) Metodologia ágeis

Essa é uma tendência que vem ganhando muita força no ambiente corporativo. Isso porque as metodologias ágeis promovem uma melhor interação entre as áreas de tecnologia e negócio e trazem um empoderamento muito forte às equipes de trabalho. Além disso, também disciplinam a forma de trabalhar, pois se notabilizam por rituais claros, rápidos e pautados sempre em decisões coletivas.

3) Líderes como mentores e não chefes

Muito se fala sobre o fim do comando e controle, enraizado em estruturas hierárquicas, e que centralizam as decisões. Apesar desse modelo estar sendo combatido, ainda está muito presente nas empresas. Todavia, este momento que estamos passando exige e exigirá cada vez mais agilidade na tomada de decisão. Os colaboradores esperam líderes que lhe mostrem o contexto da organização, a direção estratégica e os desafios e que, a partir daí, tenham autonomia para endereçá-los.

A atuação do líder como um mentor em direção aos desafios e ao desenvolvimento do indivíduo é a única forma de estabelecer vínculos e fortalecer as relações. Líderes que não acreditam nesses conceitos, definitivamente, não liderarão suas equipes em direção a reversão da curva citada no início do texto.

4) Otimização de processos através de tecnologias de rápida implantação

Certamente, as empresas passaram por mais um processo de enxugamentos de suas atividades. A forma mais eficiente de se fazer isso é através da substituição de processos manuais, repetitivos e pouco acurados por tecnologias de rápida implantação, como por exemplo os RPA (Robotic Process Automation).
O já bem propagado conceito de Centro de Excelência de RPA – que visa a formação em escala de pessoas que possam programar utilizando-se dessa prática e a automatização das demandas de acordo com a necessidade da organização -, é sem dúvidas uma forma de ganhar rápida eficiência e formar os colaboradores em novas habilidades.

5) Modelos preditivos

De todos os itens citados aqui, este é, talvez, o que mais tem movido as organizações nos últimos anos. A Implantação sempre se esbarra na estruturação de dados e na falta de conhecimento em modelos aplicados.
A necessidade de uma maior assertividade nas decisões, certamente, irá acelerar ainda mais esse movimento e obrigará as lideranças a romper barreiras e justificativas que vêm retardando a propagação desse conceito tão essencial para o mundo contemporâneo dos negócios. Automaticamente, escala-se também os conceitos que acredito irão moldar as organizações em futuro bem próximo: a Inteligência Artificial e o Aprendizado de Máquina.

6) Parcerias estratégicas com os gigantes detentores de tecnologia

Os grandes desenvolvedores de tecnologia e equipamentos investiram ao longo dos últimos anos bilhões de dólares em suas soluções. Alinhados as necessidades de seus clientes, visando sempre promover maior eficiência, eles têm se utilizado de dados e de soluções em nuvem.

Em muitos casos, essas soluções incorporam o IoT (Internet of Things, maximizando a coleta de dados e a capacidade de armazenamento e processamento e fornecendo uma plataforma de algoritmos e aplicações para tomada de decisões e ações.

Ressalto ainda que essas plataformas aliam a “democratização” do acesso à tecnologia de ponta a um ambiente controlado de desenvolvimento, algo tão exigido pelas grandes organizações.

Ainda vejo pouco a prática de parcerias estratégicas entre as grandes empresas que desenvolvem os produtos e as que os utilizam. Certamente, esse momento irá acelerar a prática do compartilhamento de tecnologia x conhecimento aplicado em busca dos resultados necessários.

7) Implantação de novas tecnologias utilizando o Ecossistema de Inovação

É difícil para mim acreditar que ainda não existe algo minimamente desenvolvido ou em prototipagem quando se fala de tecnologia para solução de algum problema de negócio. Porém, os ecossistemas de inovação, cada vez mais globais, através de universidades, centro de pesquisas, incubadoras, aceleradoras e toda uma estrutura de capital de risco, podem trazer liquidez e dar tração a isso.

Sempre acreditei muito na integração entre as soluções das Startups e os problemas de negócios. E entendo que programas de Open innovation e Corporate Ventures, que viabilizam essa integração e que são práticas já testadas no mercado, tendem a ganhar ainda mais força a partir de agora.

8) Intraempreendedorismo

De tudo que está sendo discutido nesse artigo, o intraempreendedorismo foi o que eu menos vi sendo estruturado nas grandes empresas. Vejo com grande expectativa esse conceito decolar a partir de agora, diante da possibilidade de redução do tamanho das empresas e do desejo cada vez mais latente das pessoas em empreender.

Para mim, não existe ferramenta mais poderosa de retenção dos talentos do que criar um ambiente que estimule os colaboradores a empreender. Em 2018, em uma imersão que fiz no Vale no Silício, pude ver de perto alguns programas estruturados em grandes empresas que incorporam o intraempreendedorismo, desde a avaliação de desempenho do colaborador até programas de incentivos de aceleração de startups. E o que mais me chamou atenção foi ouvir que os colaboradores são incentivados a investir de 20 a 30% do seu tempo para desenvolverem suas próprias ideias.

9) Segurança da Informação

Sem dúvida alguma, a transformação digital e boa parte dos temas discutidos aqui, tornaram esse tema um dos mais prioritários dos CIOs nos últimos anos. Um outro acelerador da Segurança da Informação no Brasil tem sido a necessidade de adequação das empresas a nova Lei Geral de Proteção de Dados, que entrará em vigor em agosto desse ano. Certamente, será necessário que os C-levels invistam mais nesse tema.

10) Blockchain

De todos os temas de novas tecnologias que já trabalhei até hoje, esse sem dúvida é o menos presente no dia-a-dia das organizações. O Blockchain, como principal tecnologia de infraestrutura digital, se beneficiará das empresas que utilizarem cada vez mais soluções digitais, principalmente neste momento de crise.

China e Coréia do Sul, por exemplo, já estão usando aplicativos para smartphone com o intuito monitorar pessoas com o vírus. Essas tecnologias incluem desde rastreamento de geolocalização, que pode monitorar a localização das pessoas através de seus telefones, até sistemas de reconhecimento facial, que podem analisar fotos para determinar quem esteve em contato com indivíduos que testaram positivo para a Covid-19.

No entanto, essas ferramentas de vigilância aumentam os limites de privacidade, e é por isso que os usuários podem se opor à inscrição. Contudo, o Blockchain pode dar ao usuário mais controle sob seus dados. Um exemplo. Os usuários podem decidir compartilhar os dados com organizações científicas ou instituições governamentais encarregadas de combater a pandemia, mas não com empresas privadas. Como não haveria nenhuma entidade central coletando e armazenando esses dados, um sistema de rastreamento baseado em Blockchain seria muito mais privado e seguro, o que poderia dar aos usuários a confiança em concordar com a coleta de suas informações e, assim, ajudar a evitar futuras pandemias.

Esse é apenas um dos muitos casos de uso possíveis. Acredito fortemente que o BlockChain irá transformar radicalmente o mundo dos negócios, assim como a internet fez. E esse atual momento deve acelerar algumas aplicações que já estão em uso ou estudo.

Com esse artigo, quero deixar claro que não foi meu intuito trazer uma discussão detalhada dos assuntos tecnológicos, cravar tendências ou tentar ser assertivo tecnicamente em cada um dos pontos. O meu objetivo é compartilhar a minha crença de que esse momento que passamos deve acelerar a utilização e a escalabilidade de tecnologias e conceitos.

A mensagem principal que quero passar é que enxergo genuinamente o copo cheio desse período. Além de sairmos mais fortes como ser humanos e mais unidos como grupo, também creio que atual crise pode dar um impulso maciço em direção a Transformação Digital e Cultural.

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