Desde a Revolução Industrial até os dias atuais, os combustíveis fósseis ainda são os recursos centrais da matriz energética mundial. Mas com os problemas ambientais das últimas décadas, a utilização das formas de energia “não limpa” tem sido colocada em xeque e vários países vêm investindo na busca de novas fontes alternativas.
A China, por exemplo, ao longo dos anos, foi se adequando às mudanças climáticas e investindo em novas maneiras de aperfeiçoar a oferta energética, transformando-se na líder mundial de investimento em energia limpa.
Em 2017, o Governo Chinês criou uma “revolução energética” com o intuito de reduzir significativamente as emissões de CO² do país. O plano estratégico da China vem seguindo seus objetivos de diminuir o uso de carvão e substituí-lo por fontes mais limpas: 2% da carga de distribuição dos seus edifícios deverá ser proveniente da energia solar térmica até 2020. Os Estados Unidos também lideraram esse crescimento do uso de energias renováveis, contribuindo com cerca de 50% do aumento da geração de eletricidade proveniente de fontes renováveis.
Em uma escala global, as renováveis tiveram a maior taxa de crescimento em comparação com as outras matrizes de energia no ano de 2017. A geração de energia renovável, segundo o recente Relatório Global de Status de Energia e CO², aumentou 6,3%, impulsionada pela expansão da energia eólica, solar e hidrelétrica. A energia eólica foi responsável por 36% do crescimento total da produção de energia renovável, seguida pela energia solar fotovoltaica (27%), hidrelétrica (22%) e bioenergia (12%). Mas apesar do crescimento exponencial na geração dessas energias, a hidrelétrica continua sendo a maior fonte de produção de eletricidade, com uma participação de 65% na produção de energia renovável.
Embora as energias renováveis tenham crescido rapidamente em 2017, a redução da intensidade das emissões de carbono foi de menos de um terço do que seria necessário para alcançar as metas climáticas. Além disso, a participação de combustíveis fósseis na demanda energética global em 2017 permaneceu em 81%, um nível que se mantém estável por mais de três décadas.
A questão ambiental, a redução dos custos, os menores riscos regulatórios e as novas tecnologias são fatores essenciais para impulsionar a expansão das fontes de energia renováveis. Um relatório divulgado em 2017 pelo International Renewable Energy Agency (IRENA), mostrou que projetos e leilões de tecnologias de geração de energias renováveis são mais baratos e deverão continuar com preços inferiores às tecnologias fósseis até 2020. Os dados mostram também que o custo de geração da energia eólica apresentou queda de 25% desde 2010, assim como o de energia solar fotovoltaica, com uma redução de 73%.
Os investimentos das companhias de O&G em Energias Renováveis
A indústria de energias renováveis tem sido cada vez mais atrativa e a tendência é que se torne um investimento a longo prazo, reduzindo a dependência do uso de combustíveis fósseis. Graças aos avanços tecnológicos, é possível perceber que as mudanças no setor estão acontecendo.
Empresas petrolíferas também estão diversificando os investimentos na transição energética global. Essas empresas estão investindo em P&D de eficiência energética, na captura e no armazenamento de carbono e apostando na transição das energias renováveis.
De olho no futuro do mercado mundial energético, em tempos onde muito se fala de economia de baixo carbono, em maio deste ano a norueguesa Statoil mudou o nome da empresa para Equinor, como uma estratégia de reposicionamento para uma ampla companhia de energia.
A mudança também segue outras companhias de óleo e gás que retiraram a palavra petróleo do nome – caso das britânicas British Petroleum (hoje BP) e British Gas (BG, adquirida pela Shell) – para se consolidarem em atividades voltadas à área de energia.
A empresa norueguesa há tempos investe em energias renováveis. No ano passado, por exemplo, a Scatec Solar ASA e a Statoil concordaram em estabelecer uma Joint Venture 50/50 para construir, possuir e operar plantas solares de grande escala no Brasil. A Joint Venture tem a ambição de se tornar um player significativo no mercado solar nacional.
A Equinor se apresenta agora como uma empresa internacional de energia que investe nos setores de petróleo, gás, energia eólica e solar em mais de 30 países em todo o mundo.
Outro exemplo é a Raízen, criada a partir da junção de parte dos negócios da Shell e da Cosan. Com o objetivo de oferecer hoje a energia do futuro, a empresa também aposta em alternativas energéticas de matrizes renováveis, com constante investimento em tecnologia, pesquisa e desenvolvimento.
A Petrobras também não está fora deste movimento. O Plano de Negócios 2018-2022 já previa que a Petrobras voltaria a atuar em fontes renováveis, uma vez que a economia mundial está orientada cada vez mais para o baixo carbono, juntamente com o grande potencial do Brasil para desenvolvimento de energias eólica e solar
Depois de quatro anos, onde priorizou investimentos na exploração e produção de petróleo visando a redução de seu endividamento, a Petrobras decidiu retomar investimentos em energia renováveis. Em julho deste ano, a estatal anunciou ter assinado um memorando de entendimentos com a empresa francesa Total com o objetivo de desenvolver projetos em conjunto nos setores de energia solar e eólica no Brasil.
Atualmente, a Petrobras tem participações em quatro projetos de energia eólica no Nordeste, com um total de 104 megawatts (MW) de capacidade. A empresa aproveita o grande potencial que existe no Brasil para essa energia, que hoje representa apenas 8% da matriz energética, mas que deverá atingir 20% em 2019.
As energias renováveis na matriz brasileira
O Brasil, porém, ainda se encontra muito atrás na utilização de fontes alternativas de energia em comparação à Alemanha, China e Estados Unidos.
No tratado em Paris, o país se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030, em comparação aos níveis de 2005. No setor de energia, o Brasil estabeleceu três metas: ter 45% de participação das energias renováveis na matriz energética, aumentar a participação de bioenergia para 18% e expandir de 28% para 33% a participação de fontes renováveis na matriz total.
Diante do potencial nacional para as tecnologias eólicas e solares, o governo brasileiro tem criado mecanismos de incentivo à utilização dessas fontes energéticas renováveis. Porém, o uso da energia solar ainda é pequeno na matriz energética brasileira.
Em 2016, de acordo com dados do boletim anual Energia no bloco dos Brics, a matriz energética brasileira registrou 80,4% de fontes renováveis, em relação a 23,6% do indicador mundial. Isso se deve à participação das hidrelétricas, que são responsáveis por 68,1% da produção. No entanto, a expansão das hidráulicas implica em maiores custos e impactos ambientais associados ao desequilíbrio de espécies e à remoção de habitats naturais.
Diante disso, para que haja o crescimento das fontes renováveis de energia nos próximos anos, a matriz energética brasileira requer uma contribuição significativa da indústria de O&G.
Neste setor, há oportunidades no mercado não só para os grandes players que fazem expressivos investimentos de capital em plantas de energia renovável, mas também para prestadores de serviços e desenvolvedores de soluções de gestão se posicionarem.