Com a transformação digital que estamos vivenciando nos vários setores econômicos, a indústria de Óleo e Gás também tem tido a oportunidade de redefinir seus limites.
Após um período de queda nos preços do petróleo, maiores pressões por responsabilidade socioambiental e outras demandas do setor, a digitalização vem atuando como um facilitador para enfrentar esses desafios e gerar valor a todos os seus stakeholders.
O avanço nas tecnologias e a conectividade cada vez mais ampla de dispositivos proporcionam uma oportunidade real de melhoria competitiva para as empresas de Óleo e Gás. Com a transformação digital, as empresas conseguem reduzir custos operacionais, aumentar a produtividade e a competitividade, obter maior controle das operações e, o mais importante, tornar sua base de ativos mais inteligente e eficiente.
Tecnologia e inovação digital não são novidades nesta indústria, mas apenas uma pequena fração do grande volume de dados gerado está sendo usada para a tomada de decisões. Uma única sonda de perfuração em um campo de petróleo, por exemplo, pode gerar terabytes de dados todos os dias.
Na década de 1980, as empresas de Óleo e Gás começaram a adotar tecnologias digitais, com foco no melhor entendimento do potencial de produção e recursos de uma reserva petrolífera, aumentando a eficiência operacional em campos de petróleo em todo o mundo.
Uma onda de iniciativas digitais varreu a parte da indústria nos anos 90 e início deste século, mas ainda de forma incipiente. Durante a maior parte desta década, o setor não aproveitou as oportunidades que derivam do uso de dados e tecnologia de maneira significativa.
Mas este cenário já está mudando. Tecnologias digitais como inteligência artificial, machine learning e cloud computing vêm ajudando o setor a reescrever seu cenário operacional.
Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) já demonstram operações no Brasil com tecnologias digitais e inovadoras no setor, através da modelagem geológica de reservatórios, da geração e transmissão de dados em tempo real, da automação de dados e imageamento 3D por satélite, dos poços equipados com nano sensores e da utilização de robôs wireless em poços e em sistemas submarinos.
A seguir exemplificamos como algumas das novas tecnologias estão sendo aplicadas na prática na indústria de O&G.
Automação de Processos Robóticos – RPA
A RPA (Robotics Process Automation) é uma solução de automação com uso de software cujo objetivo é substituir tarefas repetitivas, operacionais e baseadas em regras claras. Pode ser utilizada em atividades meio como finanças, contabilidade, recursos humanos, serviços jurídicos, atendimento ao cliente, gestão de supply chain e serviços compartilhados, para desempenhar tarefas como: realizar a abertura de e-mails, fazer o download de um anexo e realizar a cópia de dados de uma planilha para um sistema ERP, por exemplo.
Na indústria de Óleo e Gás, a RPA utiliza softwares ou robôs para executar estas tarefas operacionais com maior rapidez, visando aumentar as capacidades e economizar tempo. Baseada em regras, a automação realiza com agilidade e exatidão as atividades designadas, oferecendo resultados imediatos e mensuráveis.
A RPA pode ser utilizada na análise dos processos de exploração e produção, integração da automação industrial, relatórios operacionais, compliance e otimização de desempenho das perfurações.
Tomando como exemplo um processo de compliance de um gasoduto, a RPA permite que as empresas monitorem todos os aspectos, desde o ponto de vista operacional, identificando os desvios, caso ocorram.
A RPA na indústria de O&G certamente está tendo um impacto na produtividade da força de trabalho, mas sua implementação tem se dado em ondas. Na primeira onda, a RPA era focada em transferir tarefas operacionais para os robôs – como contas a pagar, folhas de pagamento, recebimentos etc. Na segunda onda, o foco foi em aprender a transformar a automação cognitiva em um leitor digital. E hoje em dia, a terceira onda está utilizando o software de robotização para agilizar as ordens de compra e obter um impacto positivo direto nas receitas.
Inteligência Artificial – IA
A Inteligência Artificial está sendo aplicada às atividades de exploração e produção de óleo e gás, promovendo grandes mudanças, principalmente quando integrada a outras tecnologias. A IA permite que as empresas descubram tendências e prevejam ineficiências. Seu uso traz eficiência para as operações desde o C-level até o trabalhador de campo, automatiza processos e agiliza operações comerciais manuais.
Com a IA as empresas conseguem identificar quais poços precisam de maior atenção e é capaz de fornecer recursos para que bombas monitorem painéis, equipamentos e tubulações. O uso de dados e a automação de informações sobre as bombas possibilitam que as empresas de óleo e gás atuem com maior capacidade, impactando diretamente seus resultados. A junção de sensores, software, mobilidade e conectividade no campo permite que operadores utilizem essas ferramentas de automação para atualizar seu status de ordem de serviço em tempo real.
Além de aumentar a produtividade e reduzir os gastos, a IA também reduz os fatores de risco e melhora a segurança. Através da análise de dados, as plataformas de inteligência de campo podem alertar as bombas quando houver algum problema de segurança e conseguir antecipar ações. Com essa tecnologia, os poços podem ser auto medidos sem que os bombeadores precisem sair de seus caminhões.
Algumas empresas já têm adotado a inteligência artificial nas suas instalações. A ExxonMobil, nos EUA, em parceria com o MIT, Massachusetts Institute of Technology, está há 18 meses desenvolvendo um robô para operar submerso realizando exploração em águas profundas. O robô está sendo programado para executar tarefas rotineiras como realizar inspeções visuais, ler mostradores, indicadores de nível e posições de válvulas, navegar por obstáculos e caminhos estreitos, mas também será responsável por detectar potenciais locais de extração de hidrocarbonetos.
Internet das Coisas – IoT
A IoT (Internet of Things) é uma rede de objetos físicos que possuem tecnologia embarcada, sensores e conexão capaz de coletar e transmitir dados. A integração das informações diminui o tempo de resposta a imprevistos e identifica áreas para melhoria nos processos de manutenção de equipamentos ou até nos processos de perfuração.
A IoT gera desde maior eficiência e economia de custos até maior segurança do trabalhador e redução de riscos ambientais. E tem proporcionado oportunidades e avanços tecnológicos no setor de Óleo e Gás, a partir da coleta, análise e criação de ações de resposta em tempo real.
Antes, as empresas precisavam enviar funcionários para verificar equipamentos, de forma manual, várias vezes ao dia. Com a IoT é possível, por exemplo, controlar através de sensores digitais uma tubulação para detectar vazamentos e derramamentos, ou verificar o estado de objetos como tetos flutuantes de tanques, plataformas, cabeças de poço, vagões e caminhões. Equipamentos com um cartão SIM global integrado são capazes transmitir dados para aplicativos em dispositivos móveis em qualquer lugar do mundo. Assim, supervisores e trabalhadores de campo podem monitorar e receber dados de equipamentos em seus computadores, tablets ou smartphones.
Em relação ao controle de riscos e maior segurança, utilizando sistemas conectados é possível alertar os colaboradores antes que as condições se tornem perigosas ou coloquem vidas em riscos. A tecnologia pode ajudar as empresas a tomar ações preventivas, como conter vazamentos nas tubulações ou enviar alertas caso surja alguma condição potencialmente perigosa.
Outra forma de controle remoto são os sistemas de câmeras conectadas. Câmeras conectadas a celulares podem monitorar sistemas de flaring. Isso ajuda a evitar situações de perigo, já que permite desligar um sistema em caso de emergência. Os dispositivos vestíveis também aumentam a segurança do trabalhador, permitindo, por exemplo, que embarcados offshore recebam acesso instantâneo aos dados operacionais.
Cloud Computing
O cloud computing fornece uma grande capacidade de processamento, facilitando os vínculos entre as várias unidades globais e aprimorando a segurança da informação. Isso permite que sejam analisados uma grande quantidade de dados a um menor custo. E esses dados podem ser armazenados em um hub virtual, permitindo que os serviços de computação em nuvem sejam implementados com mais segurança.
Mas isso já não é novidade. O grande benefício da nuvem é a eficiência e agilidade no processo. Sistemas de software usam a nuvem para coordenar os dados nos poços de petróleo. Ao analisar como os poços são projetados, perfurados e colocados em produção, o software pode maximizar a produção de todo um campo de petróleo.
As operações de petróleo envolvem trabalho de campo intensivo, e a necessidade de compartilhar dados de instrumentação de campo com empreiteiros, reguladores e outras partes interessadas em tempo real torna-se crucial para as empresas operarem de forma segura.
Outra vantagem do cloud computing para as operações do setor é a capacidade de criar ambientes de trabalho compartilhados. A documentação e os processos podem ser facilmente gerenciados em tempo real em diferentes locais, permitindo que o pessoal de campo se concentre em seu trabalho, enquanto as operações de conformidade e contabilidade são atendidas por equipes jurídicas e contábeis, especializadas nesse assunto.
O mapeamento baseado em nuvem desempenha um papel crucial nas operações de campo do setor, pois permite que os trabalhadores tenham acesso a aplicativos que podem ser acessados em dispositivos comuns, como smartphones.
Segurança de dados, colaborações entre equipes em tempo real e agilidade são apenas alguns exemplos do porquê a computação em nuvem é uma tecnologia considerada essencial para esta indústria em todo o mundo.
Um exemplo na prática
A automação de perfuração é uma das principais formas pelas quais os dados e as tecnologias digitais já estão sendo aproveitados pelas plataformas atuais. O sistema NOVOS, desenvolvido pela National Oilwell Varco (NOV), é um exemplo. É uma plataforma de automação de processos que permite o uso de algoritmos, orientando equipamentos de sonda. Esses equipamentos executam a operação de perfuração de acordo com um plano de poço especificado e parâmetros de perfuração pré-determinados. Esse sistema não seria possível sem sensores, tanto no poço quanto na superfície, bem como os dados coletados e o alto poder de processamento dos computadores atuais.
Para a tomada de medidas efetivas, toda a cadeia de óleo e gás, do COO até os engenheiros de poços, precisa ser traduzida em dados. Aproveitando os recursos de computação, decisões são tomadas com maior precisão e transparência, otimizando tempo e custo.
As recentes evoluções tecnológicas aplicadas a esta indústria já estão sendo capazes de criar uma mudança de patamar em eficiência, ao proporcionar decisões operacionais melhores e mais rápidas, levando à otimização do uso dos equipamentos, redução do custo operacional, aumento da eficiência dos processos e um retorno positivo dos investimentos.
Você, como gestor, tem notado uma melhoria competitiva fruto das novas tecnologias? Acredita que estas já estão sendo capazes de criar uma mudança de patamar em eficiência, ou proporcionar decisões melhores e mais rápidas?
Uma indústria da grandeza do setor de O&G não pode ignorar este novo cenário de transformação digital! Qualquer ganho mínimo de eficiência pode resultar em economia de bilhões de dólares.