AUTORIA

Tammy Avila, Ellen Lima e Murilo Maciel

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

DIRETOR RESPONSÁVEL

O conceito de inovação aberta ou open innovation foi desenvolvido em 2003 por Henry Chesbrough e refere-se a um modelo no qual a empresa está disposta a cocriar com terceiros, desde startups, universidades, clientes e até fornecedores e concorrentes, ativando todo o ecossistema para encontrar soluções inovadoras para seus desafios de negócio. Projetos de inovação aberta dizem respeito tanto à empresa captar ideias e tecnologias externas para o progresso de seus processos internos, quanto à empresa prover o mercado com soluções criadas internamente e pouco utilizadas, mas que se integram ao processo de inovação de parceiros. Nesse último caso, algumas vezes são criadas empresas para monetizar as soluções inovadoras, as chamadas spin-offs.

A prática de inovação aberta não é nova e não é restrita a nenhum tipo de indústria ou tipo de atividade econômica. Segundo o Ranking 100 Open Startups 2021, empresas de todos os setores e de todos os tipos procuram fazer negócios com as startups. Apesar disso, alguns setores vêm se destacando: serviços de bens de consumo e alimentação, serviços financeiros e serviços profissionais.

Quando são analisadas as principais vantagens do investimento em inovação aberta por parte das empresas, destaca-se a agilidade no desenvolvimento de soluções, visto que, em geral, as ideias são desenvolvidas em estruturas independentes, livres dos processos internos de grandes corporações, que acabam travando ou trazendo lentidão nas decisões, e o engajamento de funcionários, uma vez que a aceleração da mudança de mentalidade e disseminação da cultura de inovação por meio da convivência com pessoas e ambientes inovadores afeta diretamente a participação dos colaboradores.

As múltiplas fontes de inovação e a potencial fonte de novas receitas são, também, outros pontos positivos da inovação aberta. Acreditamos que a diversidade é um pilar fundamental para a inovação e com open innovation, podemos acessar empresas, universidades, startups, trabalhadores autônomos, fornecedores e concorrentes, cruzar pontos de vista e gerar conexões que elevam a inovação a outro nível. Além disso, a empresa pode ter novas receitas com o uso das soluções criadas nessas parcerias ou mesmo com a venda da solução para o mercado, é verdade que muitas inovações se tornam negócios independentes. Em diversos casos, a empresa entra com coparticipação e observa seu investimento retornar com o passar do tempo.

Ainda avaliando os benefícios da inovação aberta, esse modelo oportuniza o acesso a talentos utilizando-se de capital intelectual não exclusivo como ativo estratégico para expandir o potencial de inovação e possibilita a redução de custos e riscos, pois, de certa forma, parte do processo e dos recursos são compartilhados com outras instituições. Além de permitir uma otimização dos investimentos em P&D, ampliando a capacidade de inovação da cadeia de suprimentos por meio do fomento à integração de diferentes atores.

Partindo do ponto de vista corporativo, existem questões relevantes para se considerar quando buscamos sucesso no estímulo à inovação e, em especial, o uso de inovação aberta. Culturalmente, deve ser aceito que fracassos acontecem quando se ousa e inova, entretanto, uma ideia inovadora de sucesso pode compensar todo o investimento em inovação. Para uma ideia dar certo, muitas vezes precisamos conectar diversas áreas e confiar uns nos outros quando se trata do compartilhamento de informações, o rompimento de silos é essencial. As pessoas precisam ser mais colaborativas, inclusive com entidades externas, além de estarem abertas a propor novas ideias, assim como os executivos devem demonstrar interesse em recebê-las. Isto é, é importante um ambiente propício à ousadia no qual não se espera por soluções seguras. Adicionalmente, a agilidade nas decisões é fundamental, visto que se trata de um processo dinâmico e grandes estruturas verticalizadas governando o sistema de inovação são, normalmente, verdadeiros obstáculos. Por fim, os inovadores precisam de foco e tempo dedicado à solução, com espaço para testar e pivotar conforme necessário. Cobrar reportes de evolução continuamente gera ansiedade e frustração, podendo impactar em desperdícios em função de decisões precipitadas.

Atuar com inovação aberta é, em grande parte, conectar grandes empresas e startups. Nem sempre essa relação é fácil, as diferenças culturais dificultam o relacionamento, a começar pela velocidade com que as coisas acontecem. Os empreendedores das startups são acelerados e querem acesso a recursos, enquanto as corporações enfrentam lentidão na tomada de decisão, restrições contratuais e uma cultura de silos arraigada em um ambiente político.

No entanto, os executivos buscam cada vez mais a criação dessa conexão com startups, como referência, o estudo já mencionado Ranking 100 Open Startups 2021 informa que em 2016, na primeira edição do ranking, havia cerca de 1.000 executivos interagindo com startups na plataforma de inovação aberta, em 2021, esse número chegou a quase 10.000 executivos. E os motivos pela busca por essa relação, ainda de acordo com o mesmo estudo, apesar de majoritariamente “corporativos” (buscar soluções inovadoras para oportunidades nas empresas – 84% e conhecer novas ideias e inovações – 71%), também apresentam interesses pessoais (auxiliar empreendedores no desenvolvimento de seus negócios – 41% e procurar oportunidades de investimento – 37%).

Dessa forma, uma vez que os relacionamentos aparentem ser cada vez mais frequentes, o que é possível se fazer para facilitar essa relação? Alinhar papéis e expectativas e buscar uma convergência de objetivos são as principais fórmulas para uma associação duradoura. As empresas precisam ser grandes viabilizadores, fornecendo know-how e recursos, sem intervir nos processos de tomada de decisão. A startup ou scale-up demanda liberdade e tempo para criar e evoluir suas ideias, diferentemente de uma empresa de maior porte. Para as grandes empresas, o foco deve ser a transformação de seus processos internos e a possibilidade de estar à frente na disrupção do seu próprio mercado. Para as startups, o alvo deve ser o teste das suas ideias com um cliente real, que vai contribuir para alavancar o desenvolvimento das soluções.

Com base nos aprendizados adquiridos até aqui, entende-se que definir um propósito e estratégia alinhados com a alta liderança é um dos principais passos para as empresas que desejam iniciar esse movimento, além de estabelecer uma estrutura dedicada com capacidade para operacionalizar a estratégia e mapear seu ecossistema determinando com quem se conectar de acordo com os objetivos estabelecidos. É essencial que a empresa estabeleça seus processos e mecanismos de inovação, os chamados innovation boosters, para geração e desenvolvimento de ideias. Na sequência, a definição das métricas é, também, passo relevante quando se trata do acompanhamento da evolução da inovação, métricas de transformação, de aprendizado e de resultados são vitais, uma vez que, com isso, será possível direcionar ajustes de e rota tomadas de decisão da liderança.

Pontos críticos para o sucesso na implementação da inovação aberta na sua empresa:

  • Patrocínio da liderança;
  • Equipe focada;
  • Mindset inovador;
  • Foco na resolução de questões relevantes para o negócio;
  • Diversificação de mecanismos e parcerias para captura e desenvolvimento de ideias;
  • Monitoramento e comunicação de resultados, sejam parciais ou finais, financeiros e não financeiros.

Diversas empresas já embarcaram nessa jornada e estão colhendo os frutos das iniciativas de inovação aberta. De acordo com estudo da 100 Open Startups, o número anual de relacionamentos declarados de open innovation entre corporações e startups mais do que triplicou de 2019 a 2021, de aproximadamente 8.000 relacionamentos em 2019, para mais de 26.000 em 2021. Selecionamos alguns cases para ilustrar os potenciais impactos de ações dessa natureza.

EMPRESA: PETROBRAS

INICIATIVA: CONEXÕES PARA INOVAÇÃO

O Programa Conexões para Inovação é distribuído em diversos módulos planejados para intensificar a cooperação entre Petrobras e empresas, incluindo startups, instituições científicas e tecnológicas, pesquisadores empreendedores, em busca de soluções de alto impacto customizadas para os desafios de negócio da indústria de Óleo & Gás.

  • Módulo Ignição: parceria PUC & Petrobras para fomentar a experimentação, desafiando jovens a co-criarem soluções para a transformação digital do setor de óleo e gás;
  • Módulo Startups: parceria Sebrae & Petrobras para desenvolver soluções e modelos de negócios de startups e pequenas empresas inovadoras por meio de projetos de inovação;
  • Módulo Parcerias tecnológicas: parcerias tecnológicas com instituições de ciência e tecnologia, institutos de inovação e empresas. Um exemplo é a Innoweeks 2021, parceria entre SAP & Petrobras gerou solução vencedora que otimiza armazenamento da Petrobras e tem potencial de economia de 37 milhões de reais por ano;
  • Módulo Transferência de tecnologias: licenciamento de tecnologias da Petrobras para terceiros é uma maneira de aprimorar, acelerar, e/ou viabilizar a implementação de produtos ou processos desenvolvidos pela Petrobras, ou em parcerias, junto aos licenciados, que devem comercializar produtos ou serviços usando a tecnologia, ou ainda a usar internamente para melhorar sua operação;
  • Módulo Testes de soluções: busca por empresas que apresentem soluções validadas ou em fase de validação, com potencial para atender desafios da Petrobras. Envolve execução de testes em ambiente real de aplicação, além do atendimento a requisitos técnicos e de segurança;
  • Painel de Desafios: divulgação de oportunidades em inovação para atrair a criação e experimentação de produtos, serviços, projetos e ideias que potencializem a geração de valor para o negócio impulsionados pelo relacionamento com startups, big techs e outros players.

EMPRESAS: VALE, HOSPITAL ALBERT EINSTEIN E REDE MATER DEI

INICIATIVA: DESAFIO COVID-19

Em parceria com o Hospital Albert Einstein e a Rede Mater Dei, a empresa Vale criou uma iniciativa de inovação para apoiar soluções capazes de minimizar o impacto da doença do novo Coronavírus. O Desafio COVID-19 apoiou soluções inovadoras que cooperam na redução dos efeitos do vírus em grandes centros urbanos e localidades mais afastadas, contribuindo para a segurança de milhares de indivíduos. O projeto dispôs da contribuição de mais de 100 pessoas de dentro e de fora da Vale e impactou positivamente populações de diferentes lugares do mundo, como na Província de Ontário, no Canadá, onde estudantes de robótica do grupo First Team 1305 criaram um kit que se transforma em uma caixa esterilizadora, remediando uma das maiores necessidades em estruturas de saúde no país.

No Brasil, enquanto em Santa Catarina e no Pará foi desenvolvido um método de testagem em massa escalável, de baixo custo e que permite fazer isso em um volume muito grande, o Estado de Belo Horizonte encontrou ajuda na inteligência artificial Binah. O aplicativo criado durante a pandemia é capaz de medir os sinais vitais dos pacientes usando apenas a câmera do celular e possibilitando o monitoramento à distância.

Dessa forma, estima-se, integralmente, que o número de indivíduos e hospitais impactados diretamente foi de, respectivamente, 625.640 pessoas e 241 hospitais. A execução da proposta só foi possível devido as parcerias feitas pela Vale e segundo a própria organização, a principal motivação em investir na inovação aberta é trabalhar sem fronteiras para resolver os desafios que enfrentamos diariamente.

EMPRESA: RTM

INICIATIVA: PROGRAMA CONECTA RTM

O Programa Conecta RTM surgiu com o propósito de estimular grandes ideais através da troca de experiências e a partir dela, promover negócios no mercado financeiro dentro de um ambiente de colaboração.

A iniciativa tem em sua base o conceito de open innovation e sua rede é composta por colaboradores, clientes, startups, parceiros, centros de pesquisa e jovens visionários que através do conhecimento são capazes de potencializar e acelerar o desenvolvimento de soluções.

Dentre as iniciativas da RTM, estão:

  • Darwin Startups: a aceleradora de microempresas nas áreas de Big Data, Fintech, TI e Telecom já contou com aporte, mentoria e validação da RTM na aceleração de mais de 60 startups.
  • Byne: a RTM tem participação na empresa, que oferece solução para ambientes de comunicação crítica.
  • Acate: a RTM é membro das verticais Conectividade & Cloud e Fintechs, interagindo com empresas destes mercados.
  • Distrito: a RTM é mantenedora do hub de inovação, conectando-se ao Distrito Fintech para aproximação com startups e corporações do setor.
  • LiftLab: a RTM é parceira tecnológica do laboratório coordenado pela Fenasbac e pelo Bacen, cujo objetivo é a criação de protótipos para o SFN.
  • Inovando em Casa: comitê formado por lideranças da RTM para discutir tendências nos segmentos de TI e Telecomunicações.

EMPRESAS: LEROY MERLIN E DANONE

INICIATIVA: INOVADORIA: PARCERIAS QUE FAZEM AS IDEIAS CIRCULAREM

O desafio “Inovadoria: parcerias que fazem as ideais circularem” foi proposto pelas empresas Leroy Merlin e Danone. Duas organizações de segmentos diferentes investiram na inovação aberta com o objetivo de reaproveitar determinados tipos de plásticos, buscando diminuir o efeito desses componentes no meio ambiente e promover um consumo mais responsável associado a reutilização de resíduos da rede de produção de ambas as companhias.

As duas empresas, junto com a WaM (Worth a Million), elegeram 10 startups para a iniciativa, cuja meta é criar, a partir das embalagens plásticas descartadas da Danone, um produto sustentável que regressará ao mercado para a comercialização nas lojas da Leroy Merlin no Brasil. A startup vencedora irá receber uma bolsa-investimento de R$ 50 mil.

O projeto sugere grandes mudanças em todo o processo de consumo, começando pelo design dos produtos até a relação das partes envolvidas com as matérias-primas e a reutilização do lixo. Rodrigo Spillere, gerente de inovação da Leroy Merlin Brasil, acredita que é importante utilizar as startups para gerar mudanças culturais nas organizações e que a junção de grandes corporações privadas pode gerar impactos significativos no país e no mundo.

REFERÊNCIAS:

https://www.rtm.net.br/inovacao-aberta-no-mercado-financeiro/

http://www.vale.com/brasil/PT/sustainability/innovation/Paginas/open-innovation.aspx

https://www.whow.com.br/eficiencia/novas-iniciativas-de-inovacao-aberta-no-brasil/

https://tecnologia.petrobras.com.br/conexoes-para-inovacao.html

https://news.sap.com/brazil/2021/04/petrobras-desenvolve-com-a-sap-solucao-para-economizar-com-expedicao-de-materiais/

https://www.openstartups.net/site/ranking/insights-2021.html

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