16 de Junho de 2020 – JORNAL EXTRA
As operações de pagamento via Whatsapp vão facilitar a vida dos usuários com a possibilidade de enviar e receber dinheiro, usando cartões cadastrados, fazer transferências bancárias de forma mais ágil e com custo zero para pessoa física, ou mesmo comprar produtos e serviços sem sair da plataforma. Mas o novo meio de pagamento também traz um grande desafio sobre a segurança dos dados, especialmente pela multiplicação de golpes e clonagem de contas.
Entre outros cuidados é preciso ficar atento ao clicar em links enviados pelos próprios contatos como amigos e familiares; se certificar sobre a identificação do usuário para fazer pagamentos e enviar recursos; e evitar o compartilhamento de dados do cartão.
Para advogados e especialistas em meios de pagamento o envio de dinheiro via Whatsapp vai baratear custos para pessoa física e lojistas, e tem potencial para aumentar a inclusão bancária. Por outro lado, eles alertam para o risco de vazamento de dados dos usuários e ações de hackers para clonagem da conta do Whatsapp e roubo de dados, como número de cartões e CPF. Para eles, embora seja necessária uma atualização das políticas de proteção de dados pela plataforma, os cuidados para evitar a clonagem de contas e vazamento de informações também serão um exercício diário para os usuários.
Rodrigo Dias Pinho Gomes, coordenador de Direito e Tecnologia da Escola Superior de Advocacia da OAB-RJ, avalia que a operação é um passo importante na facilitação de meios de pagamento pela possibilidade de transferência gratuita entre usuários, simplificação dos processos, e redução de custos para os negócios e lojistas que operam através da plataforma.
Os pagamentos são feitos dentro de uma função chamada Facebook Pay. Além do WhatsApp, o Facebook é dono do Instagram.
Gomes observa que será necessário implementar mudanças nas políticas de privacidade e protocolos de proteção de dados dos usuários da rede social, com informações claras sobre locais de armazenamento e compartilhamentos das informações pessoais.
— Hoje, as mensagens trocadas entre os usuários do Whatsapp são criptografadas, o que quer dizer que você tem uma segurança. Mas o Facebook vai repassar dados do usuário a terceiros fora da plataforma, que neste caso são as instituições financeiras parceiras. As informações ficam mais expostas. Quantos milhões de transações serão feitas por dia? Não é ilegal, mas o whatsapp tem que garantir a segurança disso, porque atrai um risco muito grande e as informações podem ser acessadas por hackers — lembra Rodrigo.
Dinheiro sujo
A proliferação de golpes através da rede social, a clonagem de conta dos usuários e os ataques de hackers são sinal de alerta para quem pretende usar a ferramenta. George Leandro Luna Bonfim, do escritório Natal & Manssur, especialista em propriedade intelectual e proteção de dados, ressalta que os usuários deverão redobrar os cuidados para utilização do celular para minimizar os riscos de ter a conta invadida:
—Como toda ferramenta que facilita envio de dinheiro e transações financeiras, é importante destinar o pagamento e autorizar a remessa de dinheiro. É preciso ter cuidado com dados pessoais, evitar clicar em links que chegam através de contatos para reduzir as chances de clonagem do celular, que poderão permitir acessar o Whatsapp. A pessoa também tem que estar pronta e se precaver para onde está indo o dinheiro — afirma George.
O coordenador de Direito e Tecnologia da Escola Superior de Advocacia da OAB-RJ lembra que as transações serão comunicadas ao Banco Central (BC) pelas instituições financeiras parceiras do Whatsapp na operação do sistema. Para Rodrigo Dias Pinho Gomes, isso ajudar a rastrear operações financeiras ilegais e lavagem de dinheiro. Segundo ele, o limite diário de recursos por operação também ajuda a coibir este tipo de crime.
— Embora seja um volume muito elevado de transações diárias, estas informações vão ficar registradas no sistema bancário e serão 100% rastreáveis porque terão regulação e não passam à margem do sistema bancário. As operações com criptomoedas (peer to peer) são muito mais difíceis de rastrear — exemplifica.
Negócios
Luiz Fabbrine, sócio de serviços financeiros e fintechs da consultoria Bip, observa que a ferramenta irá ajudar a reduzir significativamente os custos de operação de pequenos negócios no Brasil, especialmente aqueles que migraram para serviços digitais durante a pandemia:
— Estas transações, com pagamento quase instantâneo, trazem uma agilidade para o recebedor com um custo menor. É provável que surjam outras ferramentas que possam oferecer serviços como este, aumentando a concorrência. Para o lojista, o novo meio de pagamento significa receber o fluxo de pagamento de forma mais rápida. Hoje, normalmente, a cadeia de pagamentos tem muitos intermediários. Estas inovações tendem a tornar o processo mais rápido, do ponto de vista do lojista e com menor custo de transação — ressalta.
Já as empresas pagarão uma taxa de processamento para receber pagamentos de clientes, semelhante às cobranças feitas em operações com cartão de crédito. Com o recurso de pagamentos no WhatsApp, além de ver os produtos no catálogo, os clientes também poderão fazer o pagamento do produto escolhido sem sair do WhatsApp.
Este artigo foi publicado também na Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios