AUTORIA

Diego Botelho

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

Renner Buzatto

DIRETOR RESPONSÁVEL

Pedro Souza

A oferta de óleo bunker no Brasil

O mercado de óleo Bunker Marítimo, também conhecido por Intermidiate Fuel Oil (IFO) no mundo, ganhou destaque em janeiro de 2020, quando a Organização Internacional Marítima (IMO) passou a adotar um limite mais restritivo sobre as emissões de compostos de enxofre (SOx) para todos os mais de 170 países signatários da Convenção Internacional para Prevenção da Poluição por Navios (MARPOL).

O limite de teor de enxofre desse óleo combustível, passou de um percentual de 3,5% para 0,5%. Esta redução criou uma nova oportunidade para a Petrobras, que é a maior produtora no Brasil, visto que, o petróleo do pré-sal possui naturalmente um baixo teor de enxofre, permitindo a produção do IFO de baixo teor de enxofre (VLSFO – Very-Low Sulphur Fuel Oil) a menores custos e, consequentemente, aumentando a margem de ganho.

O abastecimento de navios com bunker convencional, de alto teor de enxofre (HSFO – High Sulphur Fuel Oil), continua sendo uma opção até o momento. Porém, para estar em conformidade com a nova regulamentação, é necessária a instalação de scrubbers[1] nas embarcações.

Vantagens e desvantagens do sistema de Óleo Bunker

A instalação deste sistema exige espaço físico no navio e de um investimento inicial de até 10 milhões de dólares e, além disso, o uso de scrubber aumenta de 2% a 3% o consumo de combustível na embarcação, o que encarece os custos operacionais.

Isso não é necessariamente vantajoso, pois diversos aspectos devem ser levados em consideração para o custo-benefício dessa instalação como o investimento inicial, a vida útil do navio, o tempo em doca para fazer a instalação e, principalmente, o tempo de retorno, que é muito dependente do spread VLSFO/HSFO. Desde que a resolução passou a valer, este tipo de óleo não foi mais produzido no Brasil.

Em 2021, a expectativa para o mercado mundial era que a procura por óleo combustível aumentasse 4,5%, pois a expectativa era que houvesse um aumento na procura de óleo combustível e que a retomada da atividade industrial pós-pandemia de COVID-19 aquecesse a economia. Destacando-se, que a maior parte do consumo de combustível marítimo foi o do novo bunker de baixo teor de enxofre oriundo da regulamentação recente da Organização Marítima Internacional.

A variação de preço médio

Isso é visto principalmente no preço médio diário da VLSFO nos principais portos do mundo, onde se observou um aumento de 46% em 2021, em comparação com 2020. O preço médio do spread do VLSFO durante 2021 em relação ao óleo tipo Brent, nos principais portos, foi de US$ 17,42/bbl, segundo dados de preços do índice Ship & Bunker’s G20, que acompanha o preço médio do bunker nos portos principais e que são responsáveis por uma grande parcela das vendas globais de bunker. Este valor positivo no spread mostra o grande potencial de ganho para o refinador, a critério de comparação, o spread do diesel em relação ao Brent é em média de US$ 20/bbl. A Figura 1 mostra a variação do preço médio global do VLSFO com o valor do óleo tipo Brent durante o ano de 2021.

Gráfico da evolução do preço do VLSFO com relação ao Brent durante o ano 2021. Fonte: Ship & Bunker

Figura 1 – Evolução do preço do VLSFO com relação ao Brent durante o ano 2021. Fonte: Ship & Bunker [4].

Como pode ser observado no gráfico, o valor do VLSFO esteve acima do valor do Brent ao longo de 2021. Este valor positivo torna-o um produto relevante, principalmente pelo baixo custo de produção que gera um aumento da margem de lucro para os produtores.

Como essa variação afeta a Petrobras?

No caso da Petrobras, os investimentos passados no parque de refino para a adoção do diesel S10 (para o atendimento dos novos dispositivos legais), associados à maior oferta de petróleo com maior grau API proveniente das reservas do pré-sal processados nas refinarias, colocaram-na em posição privilegiada, criando as condições para que a companhia pudesse ampliar suas exportações de óleo combustível. A empresa retornou a, inclusive, operar em Cingapura, maior hub de comercialização de óleo combustível em nível mundial. Atualmente, além de ser a principal fornecedora do combustível para navios no Brasil, produz mais de 2% do bunker comercializado no mercado internacional. A Figura 1.2 mostra a estreita relação entre o preço do IFO em Santos e Cingapura.

Gráfico da evolução dos preços do VLSFO em Santos e Singapura. Fonte: Ship & Bunker

Figura 2 – Evolução dos preços do VLSFO em Santos e Singapura. Fonte: Ship & Bunker [6].

Em 2020, a Petrobras comercializou cerca de 1,6 milhão de toneladas de VLSFO. A companhia exportou cerca de 8,7 milhões de óleo combustível com qualidade para formular o bunker IMO 2020. Nesse mesmo ano, aos óleos combustíveis, tanto para formulação de bunker IMO 2020 quanto para outros usos, também foram exportados para os mercados dos Estados Unidos/Caribe, Mediterrâneo e Oeste Africano.

Atualmente, existem 11 polos de venda em instalações portuárias geridas pela Petrobras. Um dos pontos pertence a Acelen, empresa que comprou da Petrobras a Refinaria Landulpho Alves (Rlam); e o outro ponto de venda offshore no Maranhão implantado em novembro de 2020 pela Bunker One, uma fornecedora de combustíveis marítimos de atuação mundial, com participação ainda pequena no Brasil. A petroleira também possuía um ponto de abastecimento no píer da Vale no Porto de Tubarão em Vitória, no entanto, a mineradora optou por não renovar o contrato com a Petrobras e descontinuar a operação de carregamento de bunker no porto. A Figura 3 indica a localização dos polos de venda e o tipo de modal de entrega.

Tabela de polos de venda de Bunker e o tipo de modal de entrega

Figura 3 – Polos de venda de Bunker e o tipo de modal de entrega [5].

A movimentação de investimentos nos portos

Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), o setor portuário brasileiro, formado pelos portos públicos e terminais privados, movimentou 1,210 bilhão de toneladas em 2021 [7]. O número representou um crescimento de 4,8% em relação a 2020, o que mostra um grande potencial para o mercado de óleo bunker, visto que é um dos principais combustíveis utilizados neste segmento.

Dentre os diversos portos brasileiros, destaca-se como maior ponto de venda de óleo bunker no porto de Santos, que é responsável por mais de 30% do total na participação no abastecimento de combustíveis marítimos [8]. Não é à toa que a Petrobras, dentro do seu plano de desinvestimento, não incluiu as refinarias do Sudeste, devida a posição estratégica e a grande oportunidade de futuros negócios.

O Programa de Desinvestimentos da Petrobras

Este programa de Desinvestimento da Petrobras pode vir a afetar o mercado nas áreas em que a companhia não for mais atuar, com a perda eventual da opção de suprimento de alguns polos de venda, que são abastecidos, total ou parcialmente, por produto cabotado a partir de alguma unidade da Petrobras que será vendida. O novo proprietário do ativo poderá buscar novas alternativas mais interessantes para colocação do produto, deixando o polo de venda desabastecido ou, então, aumentar o custo de oportunidade, com reflexos no preço final do produto. Portos que estão nesta situação são Rio Grande, Paranaguá, Salvador, Fortaleza, Itaqui, Belém/Vila do Conde e Manaus. Como mencionado anteriormente, as refinarias de São Paulo e Rio de Janeiro, continuarão sob propriedade da Petrobras, e terão que adequar a carga e o tipo de petróleo processado se for intenção da companhia manter o mercado nos portos de Santos e Rio de Janeiro, além de suprir os terminais de São Sebastião e Angra dos Reis, que atendem basicamente à frota a serviço da companhia.

Como foi informado, a produção das refinarias brasileiras destina-se, prioritariamente, ao atendimento do mercado dos portos brasileiros, porém, tendo em vista as oportunidades de mercado criadas pelas limitações do teor de enxofre impostas pela IMO 2020, tanto o petróleo nacional, quanto os óleos combustíveis a serem utilizados na formulação do IFO 0,5%, tem sido exportado de maneira significativa. A Tabela 1 apresenta as prováveis conexões entre refinarias e portos brasileiros, conforme praticado antes da venda da RLAM.

Tabela de destinação provável da produção

Tabela 1 – Destinação provável da produção.
*A RLAM, que agora passa a se chamar Refinaria de Mataripe, pertence à empresa Mubadala Investment Company, que criou a empresa Acelen para a administração da refinaria.

O Projeto de Lei 4.199/2020 (BR do Mar)

Outro fator que pode afetar o mercado de VLSFO, é o Projeto de Lei 4.199/2020 (BR do Mar), que visa incentivar a cabotagem no Brasil, incentivar a concorrência, criar novas rotas e reduzir custos. Segundo o Mistério da Infraestrutura, a expectativa é de com a aprovação desta lei a frota de embarcações aumente em até 40%, em um período de três anos, o que torna a produção deste combustível ainda mais importante.

É provável que os efeitos sentidos por esta PL sejam no médio longo prazo, a medida que a cadeia de suprimentos no país se adequa ao novo modelo organizacional. Com relação ao consumo de óleo bunker, com o aumento da frota para cabotagem com o afretamento de embarcações estrangeira, maior será o numero de embarcações estrangeiras operando na costa do país, aumentando o consumo.

Portanto, quando se analisa o mercado de bunker no Brasil, a Petrobras continua sendo o foco de atenção. Apesar da companhia estar se desfazendo de praticamente de 50% do seu parque refino, ela segue sendo principal player do segmento. Porém, novas oportunidades poderão ser criadas, e o espaço deixado pela saída da Petrobras e/ou ruptura dos fluxos de abastecimento de alguns portos tende a ser preenchido por atores que consigam garantir fontes de suprimento confiáveis, com produto nacional ou importado, e custo logístico competitivo, resultando num preço final que seja atraente para o cliente.

Referências Bibiográficas

  1. https://www.iea.org/reports/global-energy-review-2021/oil
  2. https://shipandbunker.com/news/world/274928-average-vlsfo-bunker-price-rises-46-in-2021-vlsfohsfo-spread-widens-92
  3. https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-542/NT-EPE-DPG-SDB-2020-04_Pre%C3%A7os%20Petr%C3%B3leo%20e%20Derivados_2020_2030.pdf
  4. https://shipandbunker.com/prices/av/global/av-glb-global-average-bunker-price
  5. https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-447/EPE_MME_COMBUST%C3%8DVEIS%20MAR%C3%8DTIMOS%20E%20IMO%202020_2019.08.08%20-.pdf
  6. https://shipandbunker.com/prices/apac/sea/sg-sin-singapore
  7. https://www.gov.br/antaq/pt-br/noticias/2022/setor-portuario-movimenta-1-2-bilhao-de-toneladas-de-cargas-em-2021#:~:text=O%20setor%20portu%C3%A1rio%20brasileiro%2C%20formado,ter%C3%A7a%2Dfeira%20(2)
  8. https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-447/EPE_MME_COMBUST%C3%8DVEIS%20MAR%C3%8DTIMOS%20E%20IMO%202020_2019.08.08%20-.pdf

[1] Scrubbers são sistemas de tratamento de gases de exaustão de navios que permitem a redução das emissões de SOx e material particulado.

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