Entre os dias 21 e 24 de junho de 2022, aconteceu a segunda edição do Summit ESG realizado pelo Estadão. Com a frase divulgada “ESG, da teoria à prática”, o evento visava trazer um debate com diversos atores para diagnosticar o momento em que o Brasil está dentro do tema e discutir soluções palpáveis voltadas para cada uma das categorias do ESG.
As principais pautas no evento por categoria do ESG foram resumidas pelo Estadão como:
- E, Environment (Ambiente): redução da emissão dos gases de efeito estufa e economia de baixo carbono;
- S, Social: a relação e interesse dos investidores no terceiro setor e grupos sociais;
- G, Governança: a questão da diversidade e práticas socioambientais em contraposição a um marketing raso e sem políticas eficientes, e a governança do poder público.
Discussões de cada dia do Evento
O primeiro dia 21/06, foi composto por três painéis voltados à discussão sobre métricas eficazes de ESG, economia circular de baixo carbono e a regulação do mercado de carbono no Brasil.
O dia 22/06, foi marcado por discussões divididas entre 5 painés, envolvendo temas sobre impactos socioambientais das organizações, equidade racial, debate sobre importância da categoria S, programas sociais e desafios da reciclagem e sobre energia renovável;
Por sua vez, o terceiro dia contou com a participação de diversos palestrantes em 3 espaços, englobando falas sobre investimentos sustentáveis, transição para Net Zero, importância de lideranças femininas nas corporações e governança climática na saúde;
Por fim, o quarto e último dia foi marcado por três debates sobre desafios e práticas do ESG e carbono zero.
Destaques do Evento
Alguns pontos principais que perpassaram os debates nos quatro dias, unindo as dimensões que envolvem o ESG foram:
- Estratégia, materialidade do ESG a partir das métricas;
- Economia circular aliada para uma economia de baixo carbono;
- Importância e tendência dos investimentos de impacto e socialmente responsáveis;
- Importância de ações interseccionais: equidade racial, de gênero, social.
Materialidade do ESG a partir das métricas
Arthur Ramos, Diretor executivo e sócio da prática de Energia do BCG, trouxe em sua fala que as empresas precisam ter uma estratégia ESG, pensando em como aumentar a sua rentabilidade, mas também em como crescer abrindo novos mercados.
Nesse desenho de estratégias, as métricas são importantes instrumentos para se materializar as práticas ESG de uma organização, servindo para ponderar o que a gente enxerga hoje e o que queremos para o futuro, como discutiu Shigueo Watanabe Júnior, Pesquisador Sênior do Instituto Climainfo.
Um ponto importante trazido nos debates no Painel “Em qual métrica confiar?” Concluímos que as medidas podem ser diferentes a cada setor, pois dependendo da temática, uma categoria do ESG pode ter um peso maior que outro. Por exemplo, em varejo, relações de trabalho em algumas empresas pode ter um peso maior; já em empresas de O&G, o ambiental parece ter mais materialidade, e assim por diante.
Dessa forma, é extremamente necessário que se avancem em métricas e padronizações para divulgar os dados e informações sobre as empresas. Ainda, como destacado, algumas medidas como as de emissões de gases estufa ganharam destaque nos últimos tempos, mas é preciso também avançar nas outras temáticas que envolvem as siglas ESG.
Economia circular aliada para uma economia de baixo carbono
A Agenda 2030, desenvolvida pela ONU, inclui um plano de ação e metas para enfrentar os desafios que o mundo está passando. Ela possui objetivos ambiciosos em diversas temáticas, sendo um deles avançar no baixo carbono.
Nesse contexto, a Economia Circular aparece como uma aliada para atingir os objetivos. Como explicitado por Guilherme Brammer, CEO da Boomera Ambipar, a Economia Circular e a Economia de Baixo Carbono estão ligadas, pois, uma vez que você transforma produtos já existentes em novos, você reduz a extração de recursos da natureza e, consequentemente, reduz a emissão de carbono.
Essa Economia Circular é um modelo que vem ganhando destaque ao se contrapor ao modelo linear de produção, pensando a circularidade de materiais e consequente redução de resíduos. Diversas empresas já utilizam esse modelo de diferentes formas. Por exemplo, Andrea Borloni Salinas e Rafael Simoncelli contaram que a EDP possui 4 grandes pilares voltados a ESG, sendo um deles a integração de todos os princípios da economia circular nos processos de tomada de decisão.
Importância e tendência dos investimentos de impacto e socialmente responsáveis
O tema ESG tem ganhado importância dentro das instituições do mercado. Uma pesquisa feita pela Anbima sobre o Retrato da Sustentabilidade no Mercado de Capitais mostra que 86% das instituições financeiras classificaram a importância do tema com notas entre 7 e 10.
Nesse sentido, um tema muito comentado durante os 4 dias de evento, foi a importância de investimentos de impactos. Segundo João Paulo Pacífico, CEO Ativista do Grupo Gaia, no mundo financeiro as pessoas ainda olham apenas risco e retorno de determinado investimento. Entretanto, esse modelo vem se mostrando insustentável, uma vez que determinado investimento ou empresa pode causar uma externalidade negativa imensa. Nesse sentido, o investimento de impacto traz um novo olhar, incluindo no pilar de análise de risco e retorno a variável impacto.
Importância de ações interseccionais: equidade racial, de gênero, social
Durante o debate no Painel “A questão racial no centro da roda: Como acelerar as mudanças”, o Instituto Olga Kos trouxe um caso interessante. Segundo eles, quando o Instituto começou a trazer políticas para incluir pessoas com deficiência, perceberam que ainda estavam excluindo outras, então buscaram incluir pessoas de baixa renda, mas viram que ainda faltava incluir pessoas idosas, negras, LGBTQIA+, etc.
Esse desafio de incluir toda a população, traz à tona a importância de abordagens interseccionais, que nos permite compreender como os diferentes marcadores sociais (como gênero, classe social, idade etc.), coexistem e se relacionam. Assim, quando se pensa em políticas para mulheres, é importante pensar a intersecção desse grupo com outros, incluindo, por exemplo, mulheres negras/pretas, deficientes, LGBTQIA+ e de classes sociais baixas.
No contexto de desigualdade que o Brasil está inserido, e aliado às práticas ESG, é necessário que as empresas promovam políticas de inclusão, pois, como levantado por Leizer Pereira, Fundador e CEO da Empodera, ao se referir à questão racial, não faz sentido que mais de 50% da população do Brasil seja negra/preta, mas não tenha esse mesmo número refletido no mercado de trabalho, seja trabalhando e, principalmente, possuindo cargos de liderança.
Esses números baixos principalmente em cargos de liderança também se refletem em outros marcadores, por exemplo em gênero. Esse cenário de falta de diversidade ainda pode ser prejudicial para as empresas, pois num contexto de mudanças, as organizações precisam ser competitivas e trazerem novas soluções, não tendo, portanto, espaço para exclusão de pessoas que têm papel fundamental nessas inovações.
Por fim, como destacado durante os dias de evento, para se ter uma inclusão efetiva não adianta colocar só metas para contratação, é preciso investir em programas que retenham as pessoas, por exemplo com remunerações igualitárias.
Por onde começar?
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