AUTORIA

Bernardo Caldeira e Andre Andako

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

DIRETOR RESPONSÁVEL

Já passava das 18h quando Bruno Molina, ainda atribulado no trabalho, olhou preocupado para o relógio pensando em como poderia relaxar após um dia exaustivo.

Pensando em descomprimir um pouco, Molina decidiu dar uma olhadinha no seu telefone celular para monitorar a situação em sua casa, pensando em seu jantar. Depois de um dia difícil, nada mais justo que degustar seu prato favorito – um bom filé à francesa. Decidiu então consultar sua despensa usando um aplicativo. Em poucos segundos, constatou que estava sem ervilhas e batata palha. Rapidamente, emitiu um pedido para o mercado próximo à sua residência, solicitando uma reposição destes itens com entrega programada para 20h, pois certamente já estaria em casa. Na sequência, consultou sua geladeira por outro aplicativo e viu que ainda havia filé mignon embalado (menos uma coisa a ser resolvida).

Terminado seu expediente, aproximadamente às 19h, Molina ainda precisava pegar seu filho na aula de Judô. Todas as terças-feiras, essa era sua atribuição combinada com a esposa. Era um dia quente de verão e a temperatura estava em torno de 30 oC, mesmo após o pôr do sol. Antecipando o cansaço físico do filho e o calor excessivo do dia, deu um comando ao assistente de voz em seu carro: “- Aguiar, ligue o ar condicionado da sala na temperatura de 24 oC, por favor”. Considerando o trajeto de mais meia hora até seu destino, a casa já estaria devidamente climatizada.

Finalmente chegando em sua casa, a porta da garagem reconheceu o carro de Molina e abriu-se automaticamente enquanto ele dava um último comando ao assistente de voz: “Aguiar, pré-aqueça o forno em 220 o C”. Na visão de Molina, é a temperatura perfeita para assar a carne ao ponto de sua preferência. Na sequência, Aguiar passou o status do nível de gás disponível: -”Molina, você ainda possui gás disponível para mais três dias. Caso deseje agendar uma recarga, é só me avisar!”

Chegando na sala de sua casa, encontrou-se com a esposa e dando-lhe um beijo carinhoso, perguntou: “- Lembrou de colocar a máquina para bater?”. A resposta, muito natural de sua esposa foi: “- Sim. Pedi ao Aguiar para iniciar a lavagem enquanto estava vindo para casa. Já devem estar limpas e secas”. Molina, se dirigindo ao seu quarto para colocar roupas confortáveis, disse: “- Ótimo! O mercado deve fazer uma pequena entrega às 20h. Comeremos filé à francesa hoje!”

Internet das Coisas (IoT) e aplicação nas empresas

Esta pequena crônica mostra como a tecnologia pode tornar tarefas rotineiras mais simples e permitir o paralelismo de atividades, resultando em uma grande economia de tempo e redução de esforço, contribuindo com nossa qualidade de vida. Embora para muitos a crônica pareça distante da realidade, todos os elementos descritos estão tecnologicamente disponíveis em algumas localidades do mundo. A tecnologia em questão: IoT – Internet of Things, ou simplesmente, Internet das Coisas em tradução literal.

A aplicação de IoT consiste primariamente na sensorização de objetos, com o objetivo de captura e transmissão de dados para um conjunto de aplicações e usuários conectados em rede. Perceba que para usufruirmos de todos os benefícios de IoT não é necessário apenas sensorizar objetos e coletar dados. Precisamos ter aplicações práticas para os dados coletados, permitindo análises e tomada de ações com base nos dados obtidos. Na casa automatizada de Bruno Molina, os sensores em sua despensa e geladeira puderam ler dados de alimentos disponíveis, permitindo uma tomada de decisão – comprar ou não comprar determinado insumo.

A complexidade da aplicação de IoT está diretamente relacionada ao volume de dados coletados e sua necessidade de processamento. Por intermédio da aplicação combinada de IoT com soluções de inteligência artificial (algoritmos e machine learning), é possível identificar padrões e emitir alertas para intervenção humana ou mesmo ações preditivas. Um exemplo disto em nossa crônica seria a emissão de um pedido de compras diretamente para um mercado local pela internet a partir do evento de atingimento de um estoque mínimo ou nulo de filé mignon na geladeira ou das ervilhas na despensa. De forma similar ao funcionamento de um MRP (material requirement planning), porém sem necessidade de um ERP (enterprise resource planning) governando nossas residências.

Mesmo com plena disponibilidade de IoT e aplicativos acessíveis por telefone celular para controlar uma série de aspectos em nossas residências, os escritórios da maior parte das corporações apresenta pouca ou nenhuma sensorização. Profissionais da área de facilities de todo o mundo têm se preocupado cada vez mais com o tema, considerando potenciais contribuições com ações de bem-estar para funcionários de companhias globais. No Reino Unido, uma em cada cinco casas já conta com dispositivos conectados com internet. Um exemplo são os smart meters, que realizam a leitura de consumo de energia em tempo real, auxiliando companhias de energia elétrica com previsão de demanda. A mesma estatística não se repete para escritórios de empresas (1), denotando um grande gap de adaptabilidade de empresas no consumo de tecnologias disponíveis e criando oportunidades relevantes de mercado para fornecedores de sensores e aplicações de TI.

As indústrias de capital intensivo, como óleo e gás, mineração e siderurgia investem de forma mais massiva na sensorização e coleta de dados como instrumento de aumento da segurança operacional, contemplando a integridade de equipamentos, com base em seu monitoramento em tempo real. O investimento em processos core nessas indústrias é justificado, haja visto o grande potencial de redução de acidentes, perdas e impactos em resultados operacionais (EBITDA).

Algumas plantas industriais já possuem sistemas sensorizados conectados a soluções de big data e data analytics. Estes, por sua vez, permitem o monitoramento de integridade de equipamentos em tempo real, reduzindo riscos de acidentes e de paradas não programadas com consequência direta no resultado operacional. Como exemplo temos o sistema Proficy da GE, atualmente utilizado pela Procter & Gamble em suas unidades fabris, com o objetivo de gerar insights e inteligência com integração de dados, machine learning e análise preditiva. A aplicação de IoT em ambientes industriais é referenciada como Industrial Internet of Things (IIoT), ou Internet Industrial das Coisas, em tradução literal.

A implantação de IIoT permite a elaboração de planos de manutenção de forma preditiva, suportando também todo o planejamento de suprimentos das empresas e contribuindo com o ajuste de volume de itens em estoque. Além disso, também é possível trabalhar com dispositivos (wearables) de realidade aumentada, auxiliando na execução de tarefas diárias em campo com supervisão e orientação à distância, contribuindo com a melhor capacitação de mão de obra e redução de custos com visitas in loco.

Os reconhecidos casos de implantação dos Digital Twins, ou gêmeos digitais, são exemplos práticos de aplicação de IoT de uma maneira tangível, compreendendo sensorização, computação em nuvem, big data e machine learning, de forma convergente. Os gêmeos digitais são uma representação de um ativo real de forma digital. E tem como objetivo facilitar análises detalhadas e monitoramento de sistemas físicos, suportando o processo de gestão de ativos.

Empresas gigantes de Energia, investem na sensorização de sistemas e em análises de dados coletados em tempo real para prever problemas de manutenção. A implantação de Digital Twins em refinarias e campos de petróleo, contemplando seus sistemas operacionais mais críticos (2) podem trazer economias da ordem de milhões de dólares em horizontes de cinco anos ou menos.

Diversas indústrias e empresas mundialmente conhecidas aplicam IoT em seus projetos, muitas vezes com foco em melhoria da experiência do usuário. A Disney, por exemplo, monitora diversas variáveis sobre comportamento e consumo de seus clientes em todos os seus parques e resorts por intermédio das Magic bands, além de permitir serviços adicionais como abertura de portas de quarto, pagamento por aproximação e identificação pessoal.

Embora a tecnologia esteja disponível e em uso, ela ainda está longe de ser explorada em toda a sua plenitude e potencial de geração de soluções. O infográfico abaixo demonstra esse percentual ainda pouco expressivo de aplicação em termos de volume de empresas e seus projetos.

% de iniciativas de Internet das Coisaspor indústria e exemplos

De acordo com os dados da consultoria americana, Frost & Sullivan (3), os investimentos em IoT (Internet das Coisas) no Brasil devem ultrapassar US$ 3,29 bilhões até 2022, contribuindo com a difusão e uso da tecnologia em diversas regiões do país. A democratização de novas tecnologias e suas aplicações de formas variadas demandam tempo, investimento e criatividade. Mas, certamente, trarão inúmeras possibilidades de diferenciação para as empresas que apostarem nessa vertente. Estamos de olho!

Nota: Bruno Molina e cases mencionados são meramente ilustrativos.

Fontes:

(1)https://www.jll.co.uk/en/trends-and-insights/workplace/how-the-smart-home-is-influencing-the-smart-office

(2)http://www.apics.org/sites/apics-blog/thinking-supply-chain-topic-search-result/thinking-supply-chain/2018/09/21/real-benefits-from-digital-twins

(3) https://www.gazetadopovo.com.br/economia/iot-e-a-tecnologia-com-maior-potencial-para-transformar-negocios-a-curto-prazo/

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