Pesquisa da consultoria Bip indica que governos e setores econômicos apresentarão maior dificuldade em reduzir as suas emissões no longo prazo, devido aos baixos preços das commodities e do O&G.
Um dos primeiros efeitos da crise do COVID-19 no mundo foi a redução do consumo de energia. A desaceleração da atividade econômica em razão das restrições à circulação das pessoas e ao isolamento social resultou na redução da demanda de energia de 25%, em média, nos países com lockdown total e de 18%, em média, em países com lockdown parcial (IEA 2020).
Estima-se que a despesa mundial com petróleo será reduzida em 1 trilhão de dólares, em 2020, enquanto a despesa com eletricidade sofrerá redução de 180 bilhões. No Brasil, a redução do consumo de energia elétrica foi de 11% (21 de março – 08 de maio) no mercado regulado e 12% no mercado livre (CCEE). A redução está sendo mais forte no Sudeste/ Centro Oeste (14%) – com o RJ liderando em 21%- e no Sul (14%). No Nordeste foi de 11% e no Norte 2%. Em resposta à retração da demanda de energia, a geração por fontes renováveis sinaliza um pequeno crescimento (+0,8%) em 2020.
Os primeiros sinais do consumo na Europa durante o lockdown mostram um crescimento médio de 20% do consumo de renováveis com picos em alguns países específicos (Grécia, Estônia). Exceções são Portugal e Espanha nos quais está prevista uma retração. Consequentemente, espera-se uma redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no curto prazo. Tais emissões, contudo, tendem a se recuperar após o término da pandemia.
Na avaliação da Bip, a queda no preço do petróleo atrelada à desaceleração econômica pode desencorajar o investimento em eficiência energética e em energias renováveis no Brasil e no mundo, além de incentivar o aumento do consumo de derivados de petróleo. “Historicamente, os investimentos em fontes alternativas tiveram impulso em tempos de alta de preços do petróleo e das fontes fósseis. Atualmente, a baixa histórica dos preços das fontes fósseis e do petróleo não favorece investimentos em fontes renováveis. Muitos governos e setores econômicos apresentarão maior dificuldade em reduzir as suas emissões no longo prazo, devido aos baixos preços das commodities e O&G especificamente”, afirma Paolo Ré, sócio da consultoria Bip e responsável pela pesquisa de cenários do setor.
Investimentos
Os investimentos em energia vão diminuir 20% em todo o mundo, em 2020 , na comparação com 2019 (IEA). E nenhum dos subsegmentos vai ser poupado. A redução de investimentos em energia renovável e eficiência nos usos finais de energia vai ser sensivelmente menor do que em outras categorias (10% contra 30% em O&G).
Os investimentos globais em energia elétrica e eficiência energética vão corresponder a cerca de 0,7% e 0,3% do PIB global, respectivamente, em 2020.
Tendências de mercado pós Covid-19
No cenário pós-covid, as companhias terão que determinar os impactos provocados pela pandemia nos médio e longo prazos e repensar as estratégias, adaptando o negócio às exigências do mercado: um mundo mais digital, uma população com foco renovado em sustentabilidade e mair número de cidades inteligentes.
A Bip identificou que mesmo havendo reduzidos investimentos de energia renovável, o foco em sustentabilidade e a transição energética para fontes renováveis irá continuar, principalmente em energia solar e solar e hídrica . A mobilidade elétrica e os medidores de energia inteligentes (ou smart meters, em inglês) também vão atrair mais investimentos.
Assim, o mercado de serviços avançados de energia ganhará forças, a saber:
- Digitalização das redes e do relacionamento com o cliente
A digitalização irá aumentar a sustentabilidade e a resiliência das redes para uma série de novos serviços e otimização dos consumos. O Digital Twin, a Manutenção Preditiva, o Smart Grid / Smart meter são os componentes fundamentais para modernização da distribuição.
Ao mesmo tempo o relacionamento com os clientes da rede elétrica será cada vez mais digital, habilitando a auto medição, a interação eletrônica para assistência técnica, o faturamento e o pagamento eletrônico. As distribuidoras vão ter benefícios substanciais de redução de custos operacionais e de redução da inadimplência – uma das pragas do setor elétrico no Brasil.
- Eficiência energética e Geração Distribuída / corporativos
- Geração Distribuída- o consumidor se tornará produtor de energia, com uma pequena planta de geração fotovoltaica nas suas dependências. A energia gerada vai entrar na rede . No Brasil, o mercado potencial anual é de R$1,5 bilhões (pesquisa Bip, 2019)
- EMS (Energy Management System) –serviços (e sistemas) de monitoramento e otimização do consumo. A BIP estima um potencial de mercado de mais de R$ 3,5 bilhões no Brasil.
- Serviços para residências inteligentes
A geração distribuída pode se tornar uma agenda importante também para o mercado consumidor, junto com as tecnologias de armazenamento de energia, que permitem uma independência energética das residências. O Brasil com as altas taxas de iluminação solar em boa parte do território representa um dos principais mercados. O mercado de gestão inteligente de energia para consumidores residenciais (termostatos, controle de ar condicionado, etc) vai crescer com taxa de crescimento anual composta (CAGR) 20% até chegar em US$11 bilhões, em 2023.
- Cidades inteligentes/ mobilidade
Parcerias com empresas de serviços, telecomunicações, startups e municípios para fornecer um novo conjunto de serviços públicos de mobilidade/ rastreamento de contatos /controle de doenças. A Bip estima em R$10 bi o mercado da iluminação pública inteligente no Brasil A mobilidade elétrica pública também será estratégica na gestão das cidades no futuro. Apesar da desaceleração no crescimento da mobilidade elétrica privada os carros elétricos no mundo vão passar de 1.7 milhões atuais a 8.5 milhões, em 2025.