AUTORIA

Leonardo Martinez

Flávia Porto

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

DIRETOR RESPONSÁVEL

Os desinvestimentos da Petrobras estão na pauta da companhia desde 2015. Desde então, uma expressiva fatia das operações de upstream, midstream e downstream vêm sendo repassadas para outras empresas. Considerando que a Petrobras é uma estatal de economia mista, os desinvestimentos devem ser encarados como um processo de alinhamento estratégico. De fato, novos investimentos e processos de desinvestimento bem como a reavaliação de portfólio fazem parte do core business das empresas de óleo e gás.

A Petrobras vem realizando ajustes em seu portfólio de E&P para se alinhar com seu Plano Estratégico que foca em realizar investimentos e aquisições no pré-sal (Figura 1), uma vez que esses ativos offshore trazem maior retorno financeiro à companhia por possuírem alta produtividade e maior resiliência em situações de baixos preços de petróleo.

Figura 1 – Previsão de investimentos da Petrobras no E&P com foco no Pré-sal.

Fonte: PETROBRAS (PE 2022-2026).

De acordo com o Plano Estratégico 2022-2026 (PE 2022-2026) da Estatal, os investimentos exploratórios serão predominantemente realizados nas bacias do sudeste (58%) e margem equatorial (38%) conforme ilustrado na Figura 2.

Figura 2 – Previsão de investimentos da Petrobras na exploração de novas fronteiras e áreas descobertas.

Fonte: PETROBRAS (PE 2022-2026).

Ainda de acordo com o PE 2022-2026, a curva de produção de óleo e gás projetada para este período indica um crescimento contínuo, mesmo considerando os desinvestimentos. Em linha com o foco estratégico da Petrobras, suas atividades de E&P estão concentradas em águas profundas e ultra profundas no Brasil, representando 92% da sua produção total em 2022, com perspectiva de chegar a 100% em 2026. A produção do pré-sal representará 79% do total da companhia no final deste quinquênio.

De fato, um fenômeno natural que ocorre nos campos é a depleção dos reservatórios de óleo e gás à medida em que são produzidos, essa depleção leva a uma redução da produção dos campos. Os meios para amenizar esse fenômeno são a perfuração de novos poços e técnicas de recuperação secundária e terciária. Entretanto, tais meios aumentam os custos de produção, levando em alguns casos a uma produção antieconômica.

Na Figura 3 é possível visualizar a queda contínua de produção dos ativos da Petrobras localizados em terra e águas rasas, parte dessa queda pode ser explicada pela idade avançada de alguns campos, cuja produção teve início nas décadas de 70 e 80. Atualmente, muitos campos maduros e marginais da Petrobras estão próximos de um ponto de inviabilidade econômica, entretanto, estes podem ser atrativos para empresas mais enxutas e com expertise nesse tipo de operação.

Dessa forma, a Petrobras resolve abrir para o mercado a sua parcela de participação nesses ativos e passa a focar em projetos mais rentáveis como os campos do pré-sal.

Figura 3 – Histórico de produção de petróleo pela Petrobras em seus ativos onshore e offshore.

Fonte: PETROBRAS (PE 2022-2026).

A revitalização dos campos pouco produtivos resulta em investimentos no desenvolvimento de novos sistemas de produção e otimização daqueles já implantados, incluindo a perfuração de novos poços, com a finalidade de aumento de produção, e consequente acréscimo no recolhimento de participações governamentais para a União, Estados e Municípios. Além disso, amplia-se a geração de empregos, trazendo renda direta e indiretamente.

Vale mencionar que todo o processo de desinvestimento da Petrobras vem sendo acompanhado pelo MME (Ministério de Minas e Energia) e pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a qual é responsável pela fiscalização dos contratos para exploração e produção de petróleo e gás natural. Tal processo e a cessão de direitos sobre esses ativos, estão alinhados com a Resolução CNPE nº17/2017.

A premissa deste artigo consiste em apresentar as motivações para o desinvestimento de ativos do upstream por parte da Petrobras, em áreas onshore e offshore, e as implicações no mercado a partir desse movimento, destacando-se o conjunto de decisões e consequências relacionadas à estratégia da Petrobras de atuar fundamentalmente na área de exploração e produção com foco em águas profundas e ultra profundas, e a opção da empresa por se retirar ou diminuir sua atuação nos segmentos de refino, gás natural, petroquímica, fertilizantes, transporte, distribuição, biocombustíveis e outras energias.

Também são apresentados alguns ativos localizados na Bacia de Campos, por conta de sua concentração de campos offshore, e as novas empresas que estão atuando no cenário nacional, acompanhados de análise gráfica que evidencia como a entrada desses novos players vem influenciando na produção de petróleo e gás natural no Brasil.

O Plano de Desinvestimento da Petrobras

O plano de desinvestimento da Petrobras vem sendo acompanhado de perto e com atenção pelo mercado de óleo e gás nacional e internacional. De acordo com o PE 2022-2026, a companhia planeja realizar desinvestimentos entre US$ 15 bilhões e US$ 25 bilhões no período. Segundo a Estatal, esses valores serão utilizados para melhorar a eficiência operacional, o retorno sobre o capital e a geração de caixa necessária para manter a dívida em patamar adequado, bem como apoiar as melhores oportunidades de investimento.

A gestão ativa permite que a Petrobras foque nos ativos que têm potencial para elevar o retorno esperado do portfólio, e segundo a Estatal, o desinvestimento busca, entre outras coisas, aumentar liquidez da empresa, fortalecer a gestão de portfólio, dar maior previsibilidade às decisões e gerar aumento de eficiência.

O Desinvestimento como eixo estratégico da Petrobras

O processo de desinvestimento da Petrobras pode ser dividido em três pilares principais:

  1. Alavancagem financeira (redução da relação dívida líquida/LMT EBITDA);
  2. Foco em atividades de exploração e produção (E&P) em águas profundas do pré-sal em detrimento das outras atividades (refino, logística, distribuição, E&P em campos maduros em terra e em águas rasas);
  3. Desinvestimento (venda de ativos operacionais) em atividades não vinculadas ao pré-sal destinado à geração de recursos para redução do endividamento.

Como grande parte das gigantes petrolíferas, a Petrobras, ao longo dos anos, diversificou suas áreas de atuação. Entretanto, essa grande quantidade de áreas divide a atenção e os investimentos da companhia. A mudança de estratégia de investimentos trouxe uma visão de companhia focada em exploração e produção de petróleo e gás natural em águas profundas, especificamente nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

Dessa forma, a companhia planeja ter um quadro de subsidiárias mais enxuto e reestruturação de operações que não tem ligação direta com o core business da empresa, que é a exploração e produção.

O impacto no mercado de óleo e gás.

A movimentação da Petrobras provoca alterações no mercado como um todo. Em 2018, a Estatal previu desinvestir cerca de 183 ativos, segundo a Carta DE&P 0029/2018. Até o momento, foram anunciados para o mercado um total de 179 ativos, dos quais 124 já tiveram venda concluída, segundo painel de desinvestimento da ANP.

Os desdobramentos nos setores produtivos como um todo são positivos, uma vez que o mercado percebe que novos investimentos serão realizados na área do E&P. Uma das consequências diretas observadas no mercado é a valorização das ações da Petrobras por conta do aumento da sua capacidade de produção.

Conforme apresentado na Figura 4, nos primeiros trimestres de 2019 a produção offshore registrava média de 2,35 milhões barris de óleo por dia; entre 2020 e 2021 teve um pico de 2,90 milhões barris de óleo por dia; e, em 2022, uma máxima de 2,84 milhões barris de óleo por dia. O aumento registrado, entre os anos de estudo, foi de 22,98%.

Figura 4 – Histórico de produção de petróleo e gás offshore – Petrobras

Fonte: ANP

A expectativa é de que os desinvestimentos da Petrobras abram oportunidades para que novas empresas atuem no setor, de forma a proporcionar investimentos e incremento na capacidade produtiva e na cadeia logística dessas regiões, a partir da criação novas possibilidades de negócio para o petróleo de águas rasas, de campos onshore e do transporte e distribuição de gás natural.

De acordo com dados da ANP, houve retomada na produção de petróleo em 124 campos produtores provenientes de processo de desinvestimento da Estatal a partir de 2019. Entre os anos de 2012 e 2020, a produção desses campos teve redução de 60%, chegando ao mínimo de 57,7 mil barris de petróleo por dia. Entretanto, com novos investimentos, existe uma previsão de que seja alcançado cerca de 125,6 mil barris de petróleo por dia até 2025, um crescimento de 122%.

Os ativos mencionados acima estão localizados em zonas produtoras de terra e águas rasas nos Estados do Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia e Espírito Santo (Figura 5) e possuem como novas concessionárias grupos econômicos 3R, Imetame, Origem, PetroRecôncavo, Potiguar, Recôncavo E&P, Seacrest Cricaré e SPE Miranga.

Já os polos localizados em águas rasas, atualmente operados pelas empresas Karoon, BW Offshore, Perenco e Trident Energy, são: Baúna, na Bacia de Santos, Maromba, Pampo, Enchova, e Pargo, na Bacia de Campos.

Figura 5 – Localização dos ativos desinvestidos pela Petrobras a partir de 2019.

Fonte: ANP

 

Novos Operadores

A venda de campos maduros, tanto de terra quando de águas rasas, posterga o descomissionamento antecipado de ativos que podem continuar produzindo de forma econômica para empesas com estrutura enxuta, como é o caso dos produtores independentes. Essa atividade é benéfica para a sociedade, uma vez que promove a continuação de atividades nessas áreas e, consequentemente, arrecadação dos royalties resultantes da produção dos campos, dentre outros benefícios já mencionados.

A seguir, destacam-se algumas empresas que adquiriram campos da Petrobras.

Trident Energy

A Trident Energy é uma empresa com experiencia na operação e revitalização de ativos de campos maduros de petróleo e gás. A empresa finalizou o processo de cessão com a Petrobras dos Polos Pampo, formado pelos campos Pampo, Badejo, Linguado e Trilha, e Enchova, formado pelos campos Enchova, Enchova Oeste, Bicudo, Bonito, Piraúna e Marimbá, localizados em águas rasas na Bacia de Campos, em julho de 2020. O valor total para a aquisição foi de US$ 418,6 milhões.

Nesse processo, foram comprometidos investimentos adicionais da ordem de US$ 1 bilhão, os quais trazem um potencial de aumento de mais de 200 milhões de barris de petróleo em reservas.  Além disso, houve a prorrogação do contrato de concessão por mais 22 anos junto à ANP, 2042 a 2048.

Os denominados Polos Pampo (Figura 6) e Enchova (Figura 7), localizados no litoral do Rio de Janeiro, englobam dez campos cuja produção total de óleo e gás, de abril a junho de 2020, foi de cerca de 22 mil barris de óleo equivalente por dia, através das plataformas PPM-1, PCE-1, P-8 e P-65. Desde a aquisição, a empresa tem aumentado a produção durante determinados períodos.

Figura 6 – Histórico de produção do Polo Pampo

Fonte: ANP
Figura 7 – Histórico de produção do Polo Enchova

Fonte: ANP

Perenco

A Perenco é uma empresa privada do setor do petróleo e gás com um portfólio global e focada na revitalização e operação de campos maduros. Localizados em águas rasas no litoral do Rio de Janeiro. A operação foi concluída com o pagamento de cerca de US$ 398 milhões para a Petrobras.

A companhia adquiriu o Polo Pargo, formado pelos campos Pargo, Carapeba e Vermelho, no início de 2020, e manteve produção média de 3.500 barris de óleo por dia nos primeiros cinco meses. Em 2019, a produção média da área tinha sido de 2.350 barris de óleo por dia. Segundo dados da ANP, houve então um incremento de 67% na produção para esse período, desde então, houve aumento constante até o pico de 8.500 barris de óleo por dia, conforme apresentado na Figura 8.

Em 2021, a ANP aprovou a extensão dos contratos de concessão do Polo Pargo até 2040. Para essa aprovação foi apresentado um plano de investimentos totais de US$ 362 milhões. Entre as ações estão intervenções em oleodutos, recompletação de poços, reparos e aumento de capacidade de bombas submersas.

Figura 8 – Histórico de produção do Polo Pargo

Fonte: ANP

PetroRio

Mais recentemente, a PetroRio, uma empresa independente no cenário nacional, adquiriu a parcela de 30% do Campo de Frade, antes detida pela Petrobras, em 2021. Dessa forma, a companhia passou a deter 100% do Campo de Frade e, desde então, tem conseguido manter a produção do campo estável, conforme apresentado na Figura 9.

Adicionalmente, a companhia adquiriu 80% do campo de Tubarão Martelo, e como estratégia de otimização, unificou-o com o Campo de Polo, dando origem ao Polo Polvo. Sendo assim, espera-se a redução dos custos de operação e extensão da vida econômica dos campos até 2035. A interligação simplifica o sistema de produção, gera sinergia logística e do descomissionamento do FPSO de Polvo.

Em abril de 2022 a companhia comprou a participação significativa de 90% da Petrobras no campo de Albacora Leste, na Bacia de Campos, pelo valor de US$ 2,2 bilhões Para a Petrobras, essa venda sinaliza para o mercado a solidez do seu plano de desinvestimentos e a alocação de capital em novos projetos.

Figura 9 – Histórico de produção do Campo de Frade

Fonte: ANP

Considerações finais

O desinvestimento da Petrobras nos ativos de produção e exploração tanto no onshore quanto no offshore brasileiro, em águas rasas, é uma questão complexa e possui diversos fatores políticos, econômicos e sociais que devem ser levados em consideração.

O processo de desinvestimento de ativos upstream da Petrobras foca nos campos e estruturas de produção de terra e águas rasas, o que ficou evidente por conta da abertura para o mercado e demonstrado através de seus últimos Planos Estratégicos, pela previsão de concentração de investimentos em ativos em águas profundas e ultra profundas, em especial no polígono do pré-sal.

Essa tomada de decisão levou em consideração a grande quantidade de áreas que divide a atenção e os investimentos da companhia. Dessa forma, foi necessário realizar um ajuste de portfólio, focando em águas profundas, especificamente nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. Além disso, devemos considerar que processos de desinvestimento, os quais levam em consideração a reavaliação de portfólio, são instrumentos utilizadas por diversas empresas petrolíferas do mundo.

Numa visão de mercado, o desinvestimento da Estatal representa abertura de possibilidade de investimentos para novas empresas entrantes, mais enxutas e com expertise neste tipo de operação, as quais provem maiores investimentos e extensão da vida útil dos campos. Além disso, com as vendas desses ativos, a Petrobras busca reduzir seu endividamento. Portanto, com o aumento no número de empresas produtoras, além da Petrobras, criam-se oportunidades de negócio para o setor.

BIP Oil & Gas

A BIP Brasil tem atuado na indústria de Óleo e Gás em toda cadeia de valor, considerando Exploração e Produção, Gás Natural, Refino, Comercialização e Distribuição, em algumas das principais empresas do segmento apoiando a transformação e rentabilização de seus negócios apresentando resultados consistentes ao longo dos anos.

Saiba mais sobre a nossa atuação no mercado acessando a página da BIP Oil & Gas.

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