AUTORIA

Bernardo Caldeira, Rodrigo Bragantine e Rubem Gama

TRADUÇÃO

GERENTE RESPONSÁVEL

DIRETOR RESPONSÁVEL

Elaborado por: Bernardo Caldeira, Rodrigo Bragantine e Rubem Gama

A indústria de óleo e gás tem passado por um ano desafiador, considerando a pandemia ocasionada pela COVID-19 e com grandes efeitos de oscilação negativa de preços dos petróleos Brent e WTI, motivados pela queda de demanda na commodity em diversos países do mundo, além de recentes desalinhamentos sobre o corte na produção entre a Rússia e a Arábia Saudita.

Frente a esta conjuntura, o petróleo Brent atingiu níveis de preço inferiores a 2015, ano marcado historicamente por uma grande redução ante o período de 2010-2014, conforme explicita o gráfico abaixo:

Figura 1 – Oscilação de preço do petróleo Brent entre 2005 e 2020 (1)

É importante trazermos o panorama de preços do petróleo Brent neste caso em função do tema central deste artigo que é o plano de desinvestimentos da Petrobras.

A estatal brasileira, divulgou em novembro de 2019(2) o seu novo plano estratégico. Dentre os destaques deste plano, listamos:

  • Previsão de CAPEX de R$ 75,7 bi, com 85% alocado no segmento de Exploração & Produção (E&P); e
  • Concentração nas operações do pré-sal, com maiores retornos sobre o investimento.

De maneira resumida, observamos um posicionamento da Petrobras em se tornar uma empresa menos verticalizada na indústria e mais concentrada no segmento de E&P, com notória especialização em águas ultra profundas. Neste contexto, o parque de refino da Petrobras representa um grande volume de ativos listado no plano de desinvestimentos da companhia.

Embora haja intenção de se concentrar nas atividades de E&P, a atual Diretora de Refino & Gás Natural da empresa, Anelise Lara, em recente entrevista(3), afirmou que a Petrobras não planeja se desfazer de todas as suas refinarias e deve manter as operações no eixo Rio-São Paulo, com aproximação estratégica de seus principais ativos de produção no pré-sal e de grandes mercados consumidores do Brasil.

Considerando a venda bem sucedida destes ativos, a Petrobras passará a ter, aproximadamente, metade da sua capacidade de produção atual no segmento. De acordo com estudos de 2018, a Petrobras é responsável por 98,4% (4) da capacidade instalada no Brasil. Este panorama traz uma série de questões técnicas e oportunidades para interessados nestes ativos. Será que o investimento em uma refinaria é atrativo considerando o contexto brasileiro, panorama atual da indústria e perspectivas futuras? Neste artigo destacaremos alguns destes pontos com o objetivo de formular uma análise de mercado, identificando oportunidades e ameaças.

Abaixo apresentamos um breve resumo das características das oito refinarias listadas para venda no plano da Petrobras com seus resultados de 2019, de forma a começarmos a entender alguns importantes aspectos de atratividade destes ativos:

 

Refinaria Isaac Sabbá (REMAN) (5)

A Refinaria Isaac Sabbá foi inaugurada no ano de 1957, na margem esquerda do Rio Negro, em Manaus (AM) sendo estatizada em 1974. A refinaria possui uma capacidade de processamento de 46 mil barris por dia e possui como principais produtos GLP, nafta petroquímica, gasolina, querosene de aviação, óleo diesel, óleos combustíveis, óleo leve para turbina elétrica, óleo para geração de energia e asfalto. A REMAN se liga a três portos de recebimento e entrega de derivados geridos pela Transpetro, atendendo prioritariamente os estados do Pará, Amapá, Rondônia, Acre, Amazonas e Roraima. Além disso, a refinaria é autossuficiente em energia, dispondo de uma central termoelétrica.

Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
100% nacional129.770258.537

Tabela 1 – REMAN Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Capacidade Autorizada (m³/d)Média de Volume Processado (m³/d)Média do Fator de Utilização Efetivo (FUE)
7.300,005.046,7369,13%

Tabela 2 – REMAN Capacidade e Volume de processamento (6)

Perfil de ProduçãoMédia de Capacidade Autorizada/ mês
Asfalto (kg)8.175.105,33
Cimento Asfáltico (kg)7.962.832,00
DMA-MGO (L)17.130.915,88
Gasolina A (L)74.736.358,17
GLP (kg)3.264.002,50
Nafta (L)15.163.917,67
Óleo Combustível (kg)8.619.023,83
Óleo Combustível Marítimo (kg)4.146.483,75
Óleo Diesel S500 (L)38.858.881,33
Querosene de Aviação (L)14.259.663,17

Tabela 3 – REMAN Perfil de Produção (6)

 

Refinaria Abreu e Lima – RNEST (7)

A Refinaria Abreu e Lima (RNEST) está localizada em Pernambuco no município de Ipojuca a 45 km da capital Recife. Iniciou suas operações em 2014 com projeto original de produzir aproximadamente 230 mil barris/dia, contudo somente o primeiro conjunto de unidades (Trem I) foi posto em operação com capacidade nominal de 100 mil barris/dia Outro fato relevante é que essa refinaria não produz gasolina, em virtude de possuir unidades de destilação atmosférica o que lhe permite apenas a separação de compostos existentes no petróleo, desta forma não alcançando a octanagem da corrente nafta necessária para produção de gasolina. Entretanto, a sua produção se concentra (cerca de 70%) em outro derivado de extrema importância: o óleo diesel.

 Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
90,4% nacional804.204,83 m3779.182,75 m3

Tabela 4 – RNEST Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Capacidade Autorizada (m³/d)Média de Volume Processado (m³/d)Média do Fator de Utilização Efetivo (FUE)
15.90013.21683,12%

Tabela 5 – RNEST Capacidade e Volume de processamento (6)

Média de Capacidade Autorizada/ mês Perfil de Produção
Coque (kg)41.079.005,67
DMA-MGO (L)3.897.898,00
GLP (kg)5.118.888,17
Nafta (L)60.738.370,00
Óleo Combustível (kg)9.696.399,67
Óleo Combustível Marítimo (kg)16.145.453,25
Óleo Diesel S10 (L)202.240.251,50
Óleo Diesel S500 (L)69.785.015,42

Tabela 6 – Perfil de Produção (6)

 

Refinaria Landulpho Alves – RLAM (8)

A Refinaria Landulpho Alves foi fundada em 1950 e foi a primeira refinaria nacional impulsionada pela descoberta de petróleo na Bahia. A RLAM está localizada no município de São Francisco do Conde, na região do Recôncavo Baiano e é o maior complexo industrial do polo petroquímico de Camaçari com uma capacidade instalada é de 323 mil barris/dia. Além de ser a única produtora nacional de food grade (parafina de teor alimentício) e n-parafinas (derivado matéria prima na produção de detergentes biodegradáveis).

Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
97,93% nacional579.278,90980.534,58

Tabela 7 – RLAM Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Capacidade Autorizada (m³/d)Média de Volume Processado (m³/d)Média do Fator de Utilização Efetivo (FUE)
60.00035.38059,72%

Tabela 8 – RLAM Capacidade e Volume de processamento (6)

Produtos Perfil de Produção
Asfalto (kg)8.763.075,55
Cimento Asfáltico (kg)8.763.075,55
DMA-MGO (L)18.969.557,63
Gasolina A (L)223.895.971,42
GLP (kg)38.496.513,17
Lubrificantes básicos (L)7.155.862,33
Nafta (L)37.789.330,22
Óleo Combustível (kg)11.587.039,00
Óleo Combustível Marítimo (kg)164.975.828,92
Óleo Diesel S10 (L)145.926.187,92
Óleo Diesel S500 (L)201.063.545,58
Parafinas (kg)6.375.740,25
Querosene de Aviação (L)24.848.378,17
Solventes (L)719.535,67

Tabela 9 – RLAM Perfil de Produção (6)

 

Refinaria Presidente Getúlio Vargas – REPAR (9)  

A Refinaria Presidente Getúlio Vargas foi fundada em 1977 e está localizada no munícipio de Araucária, Paraná com uma capacidade de produção de 207 mil barris por dia, respondendo por cerca de 12% da produção de derivados de petróleo do País. A REPAR está interligada a 2 terminais (Terminal marítimo de São Francisco do Sul (SC) e Terminal marítimo de Paranaguá (PR)), 3 oleodutos (Oleoduto Santa Catarina-Paraná, Oleoduto Araucária-Paranaguá e Oleoduto Paraná-Santa Catarina) e 7 bases de distribuição (GLP (Utingas, NGB, SHV); Diesel e Gasolina (Sadipe, Unibraspe, Pontuax e Idaza); Diesel, Gasolina, QAV e Óleos Combustíveis (Sindicom)).

Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
91,87% nacional523.451,07997.909,04

Tabela 10 – REPAR Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Capacidade Autorizada (m³/d)Média de Volume Processado (m³/d)Média do Fator de Utilização Efetivo (FUE)
34.00026.77178,74%

Tabela 11 – REPAR Capacidade e Volume de processamento (6)

Produtos Perfil de Produção
Asfalto (kg)25.344.412,67
Cimento Asfáltico (kg)25.032.888,25
Coque (kg)38.260.110,00
DMA-MGO (L)5.767.421,36
Gasolina A (L)232.621.674,00
GLP (kg)35.530.867,25
Nafta (L)5.041.455,25
Óleo Combustível (kg)38.746.486,42
Óleo Combustível Marítimo (kg)12.638.555,00
Óleo Diesel S10 (L)97.334.878,67
Óleo Diesel S500 (L)284.906.504,33
Querosene de Aviação (L)21.073.219,00
Querosene Iluminante (L)156.197,38
Solventes (L)3.995.042,00

Tabela 12 – REPAR Perfil da Produção (6)

 

Refinaria Alberto Pasqualini – REFAP (10)

A Refinaria Alberto Pasqualini iniciou suas operações em setembro de 1968, município gaúcho de Canoas, com uma capacidade inicial de 28 mil barris por dia, em 1990 essa capacidade foi ampliada para 125 mil barris por dia. A planta passou por diversas ampliações atingindo em 2010 o número de 201 mil barris por dia. Além da ampliação, em 2010, a Petrobras adquiriu a totalidade das ações da REFAP possibilitando ganhos logísticos e de otimização de processamento de petróleo. Um fato relevante é que após a aquisição pela Petrobras, a refinaria começou a produzir diesel com baixo teor de enxofre, sendo esse um produto com um aumento gradual na demanda, em virtude das novas exigências das legislações ambientais. Atualmente, o Óleo Diesel é o principal produto da refinaria e possui interligação com 2 terminais marítimos (Terminal Marítimo Almirante Soares Dutra (Tedut), em Osório/RS, e ao Terminal de Niterói (Tenit), em Canoas/RS) atendendo, principalmente, os estados do Rio Grande do Sul, parte de Santa Catarina e Paraná.

Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
85,49% nacional429.783,28772.147,95

Tabela 13 – REFAP Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Capacidade Autorizada (m³/d)Média de Volume Processado (m³/d)Média do Fator de Utilização Efetivo (FUE)
35.00022.52364,35%

Tabela 14 – Capacidade e Volume de processamento (6)

Produtos Perfil de Produção
Asfalto (kg)11.986.289,25
Cimento Asfáltico (kg)11.791.964,08
Coque (kg)14.642.443,33
Gasolina A (L)171.031.721,08
GLP (kg)26.949.093,08
Nafta (L)28.974.490,75
Óleo Combustível (kg)12.867.835,17
Óleo Diesel S10 (L)103.866.188,25
Óleo Diesel S500 (L)229.331.939,17
Querosene de Aviação (L)15.619.910,42
Querosene Iluminante (L)55.909,09

Tabela 15 – Perfil da Produção (6)

 

Refinaria Gabriel Passos (REGAP) (11)

A Refinaria Gabriel Passos foi inaugurada no ano de 1968, na cidade de Betim, região metropolitana de Belo Horizonte (MG) com uma capacidade de 150 mil barris por dia tendo como principais produtos a Gasolina A e o Bunker (combustível marítimo). A REGAP é interligada aos dutos Orbel I, Orbel II e ao Gasoduto Rio de Janeiro-Belo Horizonte (Gasbel). Atualmente, atende o mercado de Minas Gerais e o do Espírito Santo.

Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
97,13% nacional530.724724.948

Tabela 16 – REGAP Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Capacidade Autorizada (m³/d)Média de Volume Processado (m³/d)Média do Fator de Utilização Efetivo (FUE)
26.400,0022.062,8283,57%

Tabela 17 – REGAP Capacidade e Volume de processamento (6)

Produtos Perfil de Produção
Asfalto (kg)31.797.464,42
Cimento Asfáltico (kg)31.316.800,83
Coque (kg)31.251.000,00
DMA-MGO (L)2.568.757,00
Gasolina A (L)171.795.428,17
GLP (kg)26.803.536,58
Óleo Combustível (kg)9.096.225,75
Óleo Combustível Marítimo (kg)20.665.412,50
Óleo Diesel S10 (L)140.009.806,83
Óleo Diesel S500 (L)166.554.145,92
Querosene de Aviação (L)57.618.570,42
Querosene Iluminante (L)179.166,67

Tabela 18 – REGAP Perfil de Produção (6)

 

Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (LUBNOR) (12)

A Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste foi fundada no ano de 1966, na cidade de Fortaleza (CE) e possui uma capacidade instalada de 8 mil barris por dia. O petróleo utilizado na LUBNOR é do tipo ultra pesado, sendo que 85% são provenientes do Espírito Santo e o restante, 15%, do Ceará. Dentro dos seus principais produtos estão o asfalto e óleos lubrificantes, sendo a refinaria responsável por cerca de 10% da produção de asfalto no Brasil, aproximadamente 235 mil toneladas por ano. Além de produzir 73 mil m³ por ano de lubrificantes naftênicos, sendo a principal fornecedora da região Nordeste.

Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
100% nacional44.767,50183.086,356

Tabela 19 – LUBNOR Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Capacidade Autorizada (m³/d)Média de Volume Processado (m³/d)Média do Fator de Utilização Efetivo (FUE)
1.6501.129,3368,44%

Tabela 20 – LUBNOR Capacidade e Volume de processamento (6)

Produtos Perfil de Produção
Asfalto (kg)13.959.489,25
Cimento Asfáltico (kg)13.432.291,50
DMA-MGO (L)3.471.583,33
Lubrificantes básicos (L)3.330.374,25
Óleo Combustível (kg)4.852.588,50
Óleo Combustível Marítimo (kg)5.860.520,83
Óleo Diesel S500 (L)813.060,33

Tabela 21 – LUBNOR Perfil da Produção (6)

 

Unidade de Industrialização do Xisto (SIX) (13)

A Unidade de Industrialização do Xisto, SIX, é uma unidade de operações localizada no município de São Mateus do Sul (PR). Fundada em 1972, a unidade se situa sobre uma das maiores reservas de mundiais de xisto. Através da extração e processamento do xisto, são gerados óleo combustível, nafta, gás combustível, gás liquefeito e enxofre, além de outros produtos utilizados pelas indústrias de asfalto, agrícola, cimenteira e cerâmica, atendendo não só o estado do Paraná, assim como Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul. A unidade tem capacidade instalada de 5.880 t/d na qual consegue produzir óleos combustíveis indicados para o consumo industrial em centros urbanos por se tratar de um tipo de óleo de alta fluidez e grande facilidade de uso, dispensando a necessidade de aquecimento, e assim reduzindo os custos operacionais de combustão, sendo ideal para os climas frios.

Origem do petróleo refinadoTancagem de Petróleo (m³)Tancagem de derivados (m³)
N/AN/A2.929,167

Tabela 22 – SIX Origem e Armazenamento de Petróleo e Derivados (6)

Produtos Perfil de Produção
GLP (kg)70.036,75
Nafta (L)2.850.452,45

Tabela 23 – SIX Perfil da Produção (6)

Com base na apresentação das características das refinarias à venda no plano de desinvestimentos da Petrobras, é importante avaliarmos elementos de mercado que podem gerar atratividade para potenciais compradores. Na sequência detalhamos alguns destes itens.

 

Mercado consumidor

O mercado consumidor se concentra nos derivados relacionados a transporte, sendo eles diesel e gasolina, conforme gráfico abaixo do volume de vendas dos principais derivados no ano de 2019, segundo a ANP (6):

Contudo, além dos dois primeiros derivados, diesel e gasolina, outro derivado que vem ganhando destaque no cenário internacional é o Bunker, sendo ele o combustível utilizado por embarcações. Esse destaque ocorre, porque em janeiro de 2020, entrou em vigor a determinação da Organização Marítima Internacional (IMO) (14) para a nova composição desse óleo combustível, tendo limitado o percentual de enxofre em 0,5%, o anterior era de 3,5%. Ressalta-se que o petróleo nacional (Pré-sal) possui naturalmente um baixo teor de enxofre o que reduz os custos brasileiros perante outros países.

O Bunker pode ser classificado em 3 tipos: Bunker A, Bunker B e Bunker C, sendo o Bunker C o tipo mais comum, também conhecido como óleo combustível residual. O Bunker C é misturado com até 10% de um óleo mais leve (ex: diesel), torna-se um combustível barato para uso nos navios e um grande produto para o mercado, em virtude de várias refinarias possuírem uma grande capacidade de produção de óleo diesel, baixo refino para o produto final e a cotação internacional do Bunker de 0,5% ter um preço maior do que seu antecessor, ocasionando para os produtores assim uma grande oportunidade na margem de venda e no volume exportado.

 

Escoamento da produção

Na região Sudeste encontra-se grande parte da capacidade de refino brasileira, cerca de 56%, no Nordeste algo em torno de 23%, no Sul 19% e na Norte, somente 2% da capacidade. Ressalta-se que na região Centro-oeste não há refinarias instaladas. Contudo, a maior parte dessas refinarias foram construídas com a lógica de minimizar os custos de abastecimento e de se complementarem no atendimento de cada região, além de terem sido pensadas para fornecer derivados às regiões mais densamente povoadas, conforme figura abaixo:

Figura 3 – Refinarias x Densidade da população (4)

Adicionalmente, em 2018, o Brasil possuía cerca 718 dutos destinados à movimentação de petróleo, seus derivados, gás natural e outros produtos atingido 21,3 mil km (15). Apesar, dos oleodutos concorrerem com outros modais de transporte, para certos volumes e distâncias, essa modalidade em comparação com outros modais, como o rodoviário e o ferroviário, mostra-se como a alternativa econômica mais vantajosa, confiável e segura. Abaixo compartilhamos o mapa brasileiro com a infraestrutura de transporte de petróleo e derivados. A fim de verificarmos, a partir do mapa (Figura 4) a concentração da malha de dutos nas áreas com maior densidade populacional e em grande parte na costa brasileira, visando o mercado consumidor e redução de custos. Vale ressaltar que a malha de dutos brasileira é pequena quando comparada a outros países de extensão territorial semelhante.

Adicionalmente, constata-se que em relação ao escoamento de produtos derivados importados, conforme mostra a Figura 5, a infraestrutura de transporte começa nos terminais marítimos, dos quais a participação da Petrobras é de aproximadamente 48% da capacidade de armazenamento.

Figura 5 – Fluxos usuais de transporte para os Combustíveis Importados (16)

Portanto, conforme o fluxo apresentado os derivados importados sofrem um sobrepreço, em razão de terem que empregar na maior parte das vezes, a infraestrutura da Petrobras para respectiva movimentação.

Ressalta-se que o país carece de investimentos privados em dutos de grande porte, em função de tratar-se de investimentos de capital intensivo e longa amortização. Um ambiente economicamente estável e com uma maior diversidade de operadores permite, de forma teórica, a possibilidade de empresas aumentarem seus market shares e margens.

Outro ponto a ser levado em consideração são os terminais. Hoje o Brasil possui 111 terminais autorizados a operar (15), os quais são classificados de acordo com a sua localização entre lacustre, terrestre, fluvial e marítimo. Segue abaixo uma tabela demonstrando a quantidade de terminais por região e tipo:

RegiãoFluvialLacustreMarítimoTerrestreTotal
Centro Oeste10045
Nordeste0017522
Norte60129
Sudeste00233154
Sul0212721
Total725349111

Tabela 24 – Quantidade de terminais por região e por tipo (15)

Constatamos que a região Sudeste possui uma infraestrutura substancialmente melhor que as demais regiões, muito em função dos terminais marítimos. Isto porque a maior parte do petróleo que supre as refinarias é oriundo de plataformas offshore, bem como os derivados importados e ambos precisam ser movimentados atualmente por transporte marítimo. Adicionalmente, outro ponto que devemos levar em consideração é que os terminais são em sua maioria destinados a derivados e biocombustíveis, conforme a tabela abaixo:

Tipo de terminalDerivados e biocombustíveisPetróleoGLPTotal por terminal
Terminal Fluvial178.54062.53129.145270.216
Terminal Lacustre128.21900128.219
Terminal Marítimo5.154.4493.847.072363.5069.365.027
Terminal terrestre2.524.6041.478.69684.0504.087.350
Total7.985.8125.388.299476.70113.850.812
Percentual57,66%38,90%3,44%100%

Tabela 25 – Capacidade de armazenagem em metros cúbicos (15)

Esse fato ocorre porque existe uma concentração das refinarias em uma determinada região com uma malha de dutos pequena, além de existir um volume considerável de importação de derivados como o Diesel que superou a marca de 13 milhões m3 importados em 2019 (6).

Adicionalmente, destacamos que apesar dos custos relacionados a transporte e armazenamento dos derivados importados ou produzidos nacionalmente, em virtude da escassez de infraestrutura, são pouco responsáveis pelo preço final ao consumidor final, conforme podemos verificar na figura 6, a qual detalha a formação do preço final do diesel a carga tributária corresponde a aproximadamente 25% do preço final considerando a média Brasil:

Figura 6 – Óleo Diesel S-10 (B12), composição do preço ao consumidor (R$/litro e %): 21/06/2020 a 27/06/2020 (17)

 

Conclusão

Considerando os elementos citados neste artigo, o investimento em um ativo de produção de refino é uma questão complexa e possui vários fatores que devem ser levados em consideração.

Levando em consideração a conjuntura do Brasil para operações de fusões e aquisições, há necessidade de análise e aprovação de órgãos competentes. Em movimento anterior de venda da Liquigás, por exemplo, o CADE declarou a operação como complexa e eventualmente vetou a venda da empresa para o Grupo Ultra (18). Neste contexto, ainda é possível vermos mudanças de rumo no plano de desinvestimentos em função de se tratar de um tema sensível.

Sobre o desinvestimento das refinarias, vale destacarmos que em junho de 2019, a Petrobras e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) celebraram um termo de compromisso de cessação, com o comprometimento da Petrobras em vender as oito refinarias supracitadas contribuindo com a entrada de investidores e promovendo o aumento de concorrência no segmento(19). Após essa data, houve uma série de ponderações feitas pelo Senado e pela Câmara dos Deputados resultando até na abertura de uma ação pelo Congresso (20) solicitando a suspensão da venda dos ativos, sob uma alegação de que o mesmo com venda o mercado ainda vai apresentar alta concentração com a Petrobras.

Um dos pontos de discussão é se a Petrobras venderá as refinarias com suas respectivas logísticas integradas. Conforme vimos, a estrutura logística de dutos (modal mais barato para grandes volumes) exige um grande investimento para construção, sendo de vital importância para redução dos custos de venda dos derivados e com impactos expressivos nas margens operacionais do negócio o acesso a esse modal, desta forma tornando o ativo mais atrativo quando existe uma venda integrada (refinaria + logística de escoamento).

Em contraposição, a venda em cluster (refinaria + logística de escoamento) pode prejudicar a intenção do governo de aumentar o número de players e reduzir os preços dos derivados praticados hoje, em virtude da compra de clusters possibilitar que uma empresa controle além da produção, boa parte da entrada dos derivados importados, os quais precisariam da sua infraestrutura de escoamento para chegar ao consumidor.  Ademais, no Brasil, os operadores de dutos longos não podem realizar as atividades relacionadas ao comércio de derivados ou refino. A Petrobras, para conseguir otimizar o seu escoamento da produção e cumprir a legislação vigente, possui uma subsidiária para operar as instalações (Transpetro).

Um outro tema importante é sobre uma eventual valorização dos ativos, estimulada pela queda do preço do petróleo. Sendo a commodity um dos insumos do processo de refino, o resultado operacional pode ser positivamente impactado com melhores margens. Em contrapartida, se a perspectiva é de manutenção dos preços do petróleo em um patamar reduzido, o valor das refinarias pode ser impactado para menos, em função de um ajuste contábil promovido pela redução ao valor recuperável dos ativos (impairment). Uma análise macroeconômica do setor deve ser feita para elaboração de cenários de preços e eventualmente, refletido no processo de valuation do ativo em questão.

Portanto, novos refinadores, neste contexto poderão enfrentar diversos desafios como: incorrer em custos relacionados à construção de novos dutos, em custos jurídicos na constituição de uma empresa para administrar somente o transporte dutoviário, carga tributária elevada nos derivados produzidos e maior volatilidade do preço do petróleo. Contudo, podem também encontrar mercados supridos por produtos importados, sendo essa uma oportunidade para se ganhar maket share, em virtude de a proximidade geográfica reduzir significativamente os custos de frete dos derivados petróleo.

Conforme, visto no texto anteriormente, os novos refinadores possuem grandes oportunidades, mas com riscos significativos, portanto, cabe a cada investidor medir sua exposição aos riscos e definir ações de investimento compatíveis com sua estratégia.

 

Fontes & referências:

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